Discussão polémica estala nos EUA após cortes a documentário sobre o autor de Maus e remoção de materiais educativos de vários filmes

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Estava tudo pronto para a transmissão nacional do documentário Art Spiegelman: Disaster Is My Muse, no âmbito da série American Masters da PBS, quando os realizadores foram informados de um corte inesperado: uma sequência de 90 segundos, na qual o autor discute uma ilustração anti-Trump publicada no âmbito da Women’s March de 2017, foi removida por decisão da própria PBS.

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Os realizadores Molly Bernstein e Philip Dolin viram-se forçados a aceitar ou pagar para reverter o acordo de licenciamento. Acabaram por permitir a emissão com os cortes, mas denunciaram publicamente o que consideram ser um acto claro de censura.

“A ironia de censurar um defensor da liberdade de expressão talvez se tenha perdido para a PBS, mas não para nós”, afirmou Alicia Sams, produtora do filme.


Uma edição silenciosa mas significativa

O corte retirou não apenas a sequência do cartaz de Spiegelman, como também uma frase da académica Hillary Chute que referia explicitamente o “momento Trump e pós-Trump”. A PBS justificou a edição afirmando que a sequência “já não estava em contexto” e que a decisão visava manter a “integridade e adequação do conteúdo”.

Contudo, os realizadores e comentadores do sector vêem estas alterações como sinais preocupantes de autocensura, especialmente num clima político em que os media públicos são alvo de pressões constantes por parte de figuras da extrema-direita.


Outros casos de censura: de filmes trans a materiais educativos

Este não foi um caso isolado. O documentário Break the Game (2023), centrado na gamer trans Narcissa Wright, foi adiado indefinidamente pela PBS antes de receber nova data. Emails internos revelaram que a PBS receava reacções negativas antes de uma audição no Congresso liderada por Marjorie Taylor Greene.

Além disso, lições e recursos pedagógicos associados a documentários como LandfallUnapologetic e Statelessdesapareceram do PBS LearningMedia, um portal educativo para escolas norte-americanas. Seguindo o rasto desses recursos, vários realizadores confirmaram que os seus materiais foram silenciosamente removidos entre Dezembro de 2024 e Janeiro de 2025.

“Não se trata apenas de um plano de aulas perdido. É uma tendência de apagamento organizada e institucionalizada”, afirmou Marjan Safinia, co-realizadora da mini-série And She Could Be Next.


O que está em causa: o futuro dos documentários independentes nos media públicos

Para muitos cineastas, o que está em jogo é o futuro da produção documental independente. Com a PBS a enfrentar ameaças à continuidade do seu financiamento federal, a reacção tem sido, segundo vários intervenientes, “demasiado silenciosa”.

Apesar das declarações formais da PBS que garantem não terem alterado as suas directrizes editoriais, os realizadores começam a procurar alternativas: transmissões via Twitch, hospedagem dos materiais em plataformas externas e pressão pública para maior transparência e responsabilidade.

“Se a PBS não defende a liberdade de expressão, então quem o fará?”, questiona Jane Wagner, realizadora de Break the Game.

Num momento em que os documentários são mais essenciais do que nunca para compreender o mundo, as edições silenciosas e a supressão de vozes marginais tornam-se um sintoma grave. Um sintoma que, como muitos dizem, pode ser o canário na mina de carvão da liberdade cultural norte-americana.

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