Em 1976, o actor mais influente da sua geração desdenhava do ofício que o imortalizou. Brando odiava Hollywood — e nunca teve pudor em dizê-lo.

ver também : Reality Bites: O Manifesto Romântico e Irónico da Geração X

Poucos nomes têm tanto peso na história do cinema como Marlon Brando. Revolucionou a arte da interpretação com Um Elétrico Chamado Desejo, redefiniu o poder do silêncio em O Padrinho e marcou para sempre o cinema com Apocalypse Now. E, no entanto, Brando odiava tudo isto.

aqui :

Numa entrevista memorável à TIME, publicada a 24 de maio de 1976, o actor descreveu a profissão que o tornou mito como “vazia e inútil”, declarando que só atuava “pelo dinheiro”. Para muitos, foram palavras chocantes. Para quem conhecia o homem por detrás da lenda, foi apenas mais uma prova da sua frustração com um sistema que o aprisionava criativamente — mesmo enquanto o celebrava.


🎬 O artista que desprezava a indústria

“Estou convencido de que quanto maior for a bilheteira, pior é o filme”, afirmou Brando. Para ele, a indústria cinematográfica era uma máquina de fazer “glop” — entretenimento processado e sem valor artístico.

O actor não poupava críticas: ridicularizava os papéis que aceitava (“Brando faz de índio que ataca uma diligência”), desvalorizava os autores contemporâneos e lamentava a inexistência de verdadeiros clássicos modernos. Só Bergman e Buñuel escapavam à sua ira. “São visionários, artesãos maravilhosos”, disse. “Mas quantas pessoas no mundo já viram um filme deles?”


🎥 Último Tango em Paris e o trauma do impacto forçado

Ao falar de Último Tango em Paris, um dos seus papéis mais controversos, Brando foi claro: não gostava do filme. Achava-o “calculado, feito para chocar e não para dizer algo verdadeiro”. A relação com o realizador Bernardo Bertolucci foi tensa, especialmente quando este sugeriu uma cena de sexo real entre Brando e Maria Schneider.

Brando recusou:

“Disse-lhe: ‘Se fizermos isso, os nossos órgãos sexuais tornam-se o centro do filme’. Ele nunca concordou comigo.”

Décadas depois, Maria Schneider denunciaria a violência emocional que sofreu no set — uma revelação que lançou uma nova sombra sobre o filme e a sua receção crítica.


🕴️ O Padrinho… sem saber o que fazia

E quanto ao papel que lhe valeu um Óscar e o consagrou junto do público? Para Brando, Don Vito Corleone era uma figura estranha, distante.

“O que raio sei eu sobre um italiano de 65 anos que fuma charutos enrolados com merda de cabra?”, disse, com o desdém de quem nunca se importou em construir ídolos — nem mesmo a sua própria imagem.


💭 Rebelde até ao fim

A entrevista de Brando em 1976 não foi apenas um desabafo. Foi o reflexo de um artista atormentado pela distância entre o potencial transformador da arte e a sua banalização comercial. Foi também um grito contra o sistema que o consagrou — e o destruiu lentamente.

“Atuar é uma profissão inútil. Não me dá prazer”, disse.

E mesmo assim, ninguém a fez como ele.

Recommended Posts

No comment yet, add your voice below!


Add a Comment