“Estou Cansado de Filmes”: A Confissão Surpreendente de Denzel Washington

O ator que marcou gerações e já não vai ao cinema

Denzel Washington, um dos nomes mais respeitados de Hollywood, fez recentemente uma revelação que deixou muitos fãs boquiabertos: já não vê filmes. O vencedor de dois Óscares — por Tempo de Glória (1989) e Dia de Treino (2001) — confessou estar simplesmente “cansado de filmes”, numa conversa descontraída que rapidamente se tornou viral.

A confissão aconteceu durante uma entrevista para a revista GQ, ao lado do realizador Spike Lee e do ator e músico A$AP Rocky, no âmbito da promoção de Highest 2 Lowest, o novo filme que chega à Apple TV+ no dia 5 de setembro.

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A pergunta que desencadeou tudo

O momento surgiu quando A$AP Rocky recordava algumas imagens icónicas dos filmes de Spike Lee, como Malcolm X(1992), protagonizado pelo próprio Washington, ou Crooklyn (1994). Questionado sobre quais seriam as suas sequências favoritas, Denzel não hesitou em quebrar as expectativas:

“Não vejo filmes, meu. A sério. Não vejo filmes. Não vou ao cinema.”

A resposta arrancou gargalhadas de Lee e Rocky, mas Washington foi ainda mais longe:

“Provavelmente é porque os faço. Estou cansado de filmes.”

Uma carreira demasiado extensa para contar?

Spike Lee aproveitou a deixa para perguntar ao amigo quantos filmes já tinha feito. Washington respondeu de imediato: “Demasiados. Acho que 50”. A verdade é que Highest 2 Lowest marca já o 53.º filme da sua carreira como ator desde a estreia em 1981, sem contar com dois projetos em que esteve apenas atrás das câmaras.

Curiosamente, este também é o reencontro de Washington com Spike Lee após 19 anos. Os dois trabalharam juntos em quatro títulos marcantes: Quanto Mais Melhor (1990), Malcolm X (1992), He Got Game (1998) e Infiltrado (2006).

Entre o cansaço e a lenda

Seja por saturação ou pelo peso de mais de quatro décadas de carreira, Washington deixou claro que não tem interesse em rever o passado. Não vê sequer os seus próprios filmes — e talvez seja precisamente essa distância que lhe permite continuar a surpreender, projeto após projeto.

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Afinal, poucos atores conseguem manter-se tão relevantes durante tanto tempo. O público pode estar “cansado” de esperar, mas Denzel ainda não terminou a sua história no cinema.

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Dez filmes, duas cidades, um duelo de gigantes

Os festivais de cinema de Veneza e Cannes são, há décadas, os palcos mais prestigiados da sétima arte. Foi neles que nasceram tendências, despontaram talentos e se consagraram mestres. Agora, o TVCine Edition traz essa rivalidade saudável até casa dos espectadores, num especial dividido em dois domingos: 7 e 14 de setembro, sempre a partir da tarde.

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Ao todo, são dez filmes premiados e aclamados nestes dois certames, exibidos em estreia absoluta na televisão portuguesa. Uma verdadeira viagem pela excelência cinematográfica, disponível também no TVCine+.

Veneza: de famílias em guerra a lutas pela liberdade

No dia 7 de setembro, o foco recai sobre Veneza, com cinco filmes que representam a ousadia e a diversidade temática do festival:

  • Vermiglio (2024) – Leão de Prata do Grande Prémio do Júri. Um retrato íntimo de uma família italiana em plena Segunda Guerra Mundial.
  • O Ano Novo Que Não Aconteceu (2024) – Melhor Filme na secção Orizzonti. Uma tragicomédia que acompanha seis vidas cruzadas durante a queda do regime de Ceaușescu.
  • Finalmente a Madrugada (2023) – Uma viagem mágica e perigosa pelos bastidores da Cinecittà dos anos 50, com Lily James e Willem Dafoe.
  • Tatami – Contra a Opressão (2023) – Co-realizado por Guy Nattiv e Zar Amir Ebrahim, um intenso drama sobre coragem e dignidade em plena competição de judo.
  • Corpus Christi – A Redenção (2019) – Nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional, explora fé, redenção e a busca de segundas oportunidades.

Cannes: do glamour à reflexão social

No domingo seguinte, 14 de setembro, é a vez de Cannes brilhar, com outra seleção de cinco títulos marcantes:

  • Volveréis – Voltareis (2024) – Uma comédia agridoce sobre separação e renascimento, vencedora do prémio Label Europa Cinemas.
  • Riddle of Fire (2023) – Uma fábula filmada em 16 mm, que transforma uma simples missão infantil numa aventura quase mística.
  • A Prisioneira de Bordéus (2024) – Drama político e íntimo com Isabelle Huppert, sobre amizade e desigualdade social.
  • Cão Preto (2025) – Vencedor da secção Un Certain Regard, uma história tocante de amizade improvável entre um ex-recluso e um cão.
  • Diamante Bruto (2024) – Em competição pela Palma de Ouro, o retrato cru de uma jovem obcecada com a fama e a beleza.

Uma competição sem vencedores

Mais do que um duelo, este especial é um convite à descoberta de histórias que desafiam géneros e expectativas. Do realismo político ao onírico, da comédia à tragédia, Cannes e Veneza continuam a mostrar porque são considerados os templos do cinema mundial.

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E, este setembro, a plateia privilegiada é mesmo a sua sala de estar.

O Mundo Segundo Billy Wilder: TVCine dedica setembro a um mestre de Hollywood

Uma homenagem à sátira, ao humor e ao génio criativo

De 6 de setembro a 4 de outubro, o TVCine Edition abre as portas ao universo de Billy Wilder, um dos maiores nomes da era dourada de Hollywood. Realizador e argumentista premiado com seis Óscares, Wilder deixou um legado inconfundível: diálogos afiados, crítica social disfarçada de comédia e personagens inesquecíveis.

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O especial Clássicos: Billy Wilder promete encher as noites de sábado com algumas das suas obras mais emblemáticas, transmitidas no TVCine Edition e também disponíveis no TVCine+.

Cinco obras-primas para revisitar

Ao longo de cinco semanas, o público terá a oportunidade de (re)descobrir alguns dos títulos que moldaram a história do cinema:

  • Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959) – 6 de setembro, 22h00Um clássico absoluto da comédia com Tony Curtis e Jack Lemmon em disfarces improváveis, e Marilyn Monroe num dos papéis mais icónicos da sua carreira. Considerada por muitos a melhor comédia de sempre, venceu o Óscar de Melhor Guarda-Roupa e continua a arrancar gargalhadas mais de 60 anos depois.
  • Irma La Douce (1963) – 13 de setembro, 21h40Jack Lemmon e Shirley MacLaine dão vida a uma história de amor improvável no coração de Paris. A química entre os dois atores, já testada em O Apartamento, transforma esta comédia romântica num verdadeiro clássico, com direito a Globo de Ouro para MacLaine.
  • Como Ganhar Um Milhão (The Fortune Cookie, 1966) – 20 de setembro, 21h55Jack Lemmon e Walter Matthau brilham nesta sátira sobre um processo judicial fraudulento que se complica quando entra em cena a consciência moral. Um retrato inteligente do oportunismo e da ética à americana, com a assinatura mordaz de Wilder.
  • A Vida Íntima de Sherlock Holmes (1970) – 27 de setembro, 22h00Uma visão melancólica e inesperada do famoso detetive. Wilder desmonta a imagem intocável de Sherlock Holmes, revelando fragilidades e um lado mais humano, num filme que mistura mistério, romance e fantasia.
  • Amor à Italiana (Avanti!, 1972) – 4 de outubro, 22h00Jack Lemmon volta a ser protagonista, desta vez numa viagem a Itália repleta de ironia, charme e romance. Uma comédia sobre moralidade e transformação pessoal, que mostra o olhar apurado de Wilder para as contradições humanas.

O legado de um mestre

Wilder foi muito mais do que um realizador de êxitos: foi um observador atento da sociedade, que soube rir-se das suas convenções ao mesmo tempo que emocionava com subtileza. De O Apartamento a Crepúsculo dos Deuses, a sua filmografia continua a ser estudada, citada e celebrada por cinéfilos em todo o mundo.

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Com este ciclo, o TVCine oferece não apenas entretenimento, mas também uma viagem pela inteligência, humor e sensibilidade de um cineasta que moldou a história do cinema.

Morreu Graham Greene, o memorável Ave que Esperneia de Danças com Lobos

Um rosto que deu voz e dignidade aos povos indígenas no cinema

O cinema perdeu uma das suas figuras mais marcantes na representação de personagens indígenas: Graham Greene, ator canadiano nomeado para os Óscares por Danças com Lobos (1990), morreu esta segunda-feira em Toronto, vítima de doença prolongada. Tinha 73 anos.

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O impacto de Danças com Lobos

Greene ficará para sempre associado ao papel de Ave que Esperneia, o Sioux curioso e sábio que cria uma ligação profunda com o Tenente John Dunbar (Kevin Costner). A sua personagem, além de ser uma das mais memoráveis do épico vencedor de sete Óscares, tornou-se um símbolo de dignidade e representação autêntica dos povos indígenas no grande ecrã.

A nomeação ao Óscar de Melhor Ator Secundário foi um marco histórico. Greene perdeu para Joe Pesci em Tudo Bons Rapazes, mas o reconhecimento abriu portas para que outros atores ameríndios encontrassem espaço em Hollywood.

Um percurso de perseverança

Nascido a 22 de junho de 1952 em Ohsweken, na Reserva das Seis Nações, Ontário, Graham Greene teve vários empregos antes de se dedicar à representação. Começou no teatro nos anos 70 e estreou-se no ecrã em 1979, num episódio da série The Great Detective.

No cinema canadiano, destacou-se em Running Brave (1983), mas foi Danças com Lobos que o catapultou para o reconhecimento internacional. O sucesso, contudo, não o livrou de dificuldades pessoais: em 1997, lutou contra uma depressão que o levou a uma tentativa de suicídio, experiência que nunca escondeu e que lhe deu ainda mais profundidade como intérprete.

De Hollywood aos novos tempos

A sua carreira estendeu-se por décadas, quase sempre em personagens secundárias que transmitiam nobreza e respeito. No cinema, brilhou em Maverick (1994), Die Hard: A Vingança (1995), À Espera de Um Milagre (1999), Transamerica(2005), A Saga Twilight: Lua Nova (2009), Jogo da Alta-Roda (2017) e, com especial intensidade, em Coração de Trovão(1992) e Wind River (2017).

O seu talento também se fez sentir na televisão, com participações em séries de culto como Northern Exposure (No Fim do Mundo), Lonesome Dove: The SeriesLongmireGoliathAmerican Gods e, mais recentemente, Reservation Dogs e Echo.

A colaboração com Taylor Sheridan, em 1883 e Tulsa King, demonstrou como Greene continuava a ser uma presença requisitada e respeitada, mesmo nos últimos anos de vida.

Um legado para além da representação

Casado há 35 anos e pai de uma filha, Graham Greene deixa não apenas uma carreira notável, mas também um legado simbólico: o de ter levado a autenticidade e a humanidade dos povos indígenas para o grande público, sem clichés ou caricaturas.

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Com a sua partida, Hollywood perde um ator discreto mas fundamental, alguém que, com cada olhar e cada gesto, fazia justiça às histórias que contava.

“Broken English”: Documentário de Veneza lança nova luz sobre Marianne Faithfull

O Festival de Veneza abriu espaço para redescobrir uma das vozes mais fascinantes e turbulentas da música britânica. Broken English, realizado pela dupla Jane Pollard e Iain Forsyth, olha de frente para a vida de Marianne Faithfull — cantora, compositora e ícone da “Swinging London” — que morreu em janeiro deste ano, aos 78 anos.

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O filme, exibido fora de competição, não segue o caminho tradicional do documentário musical. Em vez disso, mistura arquivo, encenação e até ficção para construir um retrato íntimo e ousado de Faithfull. Uma das ideias mais originais é a criação de um fictício “Ministério do Não Esquecimento”, dirigido por uma Tilda Swinton enigmática, encarregado de corrigir a memória histórica de uma artista tantas vezes reduzida à sombra de Mick Jagger ou ao peso das manchetes sensacionalistas.

Faithfull conheceu o estrelato em 1964 com As Tears Go By, escrita por Jagger e Keith Richards, mas a ascensão rápida trouxe também os excessos: drogas, perseguição da imprensa e, em determinado momento, a queda ao ponto de viver nas ruas de Londres. Porém, tal como o título do documentário sugere, Broken English também é sobre renascimento: o seu álbum homónimo de 1979 devolveu-lhe voz, energia e uma carreira que, nos anos seguintes, se manteve vibrante graças à sua disponibilidade para colaborar com novas gerações de músicos.

As imagens recentes mostram uma Faithfull frágil, em cadeira de rodas e dependente de oxigénio, mas ainda combativa. Durante as filmagens, a artista apelou a uma “recalibração urgente dos legados de alguns artistas brilhantes que correm o risco de serem esquecidos ou deturpados”. Essa é precisamente a missão do filme: devolver-lhe a profundidade que tantas vezes lhe foi negada.

Pollard confessou que, no início, Faithfull estava desconfiada da proposta — afinal, ninguém gosta da ideia de uma “instituição fictícia” a remexer no passado. Mas rapidamente percebeu que o dispositivo lhe dava liberdade para se abrir, revisitar memórias e reconsiderar a sua própria vida. O resultado é um retrato que não se limita ao registo jornalístico: aproxima-se antes da pintura ou da fotografia, procurando capturar a essência de uma mulher que nunca aceitou ser domada.

Ao lado de Broken English, Veneza destacou ainda outros documentários que exploram mundos ocultos ou memórias em risco. Gianfranco Rosi filmou Sotto le Nuvole, uma poderosa ode a Nápoles e ao constante perigo dos seus vulcões, enquanto Werner Herzog apresentou Ghost Elephants, uma busca quase mística por uma espécie de elefante nas florestas de Angola.

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Mas foi o regresso de Marianne Faithfull ao grande ecrã — através de um filme que desafia géneros e convenções — que mais tocou o público. Afinal, a sua vida foi tudo menos linear: da glória pop à marginalidade, da queda à redenção. Agora, com Broken English, fica a certeza de que a sua história não se apaga, mas ganha um novo fôlego para a eternidade.

Bollywood em choque: a Inteligência Artificial já está a reescrever finais e a criar filmes inteiros

A indústria cinematográfica mais produtiva do mundo está a viver um momento de viragem. Bollywood, conhecida pelos seus épicos repletos de música, dança e equipas de produção gigantescas, treme agora perante uma nova força criativa — ou destrutiva, dependendo do ponto de vista: a Inteligência Artificial.

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O alerta soou quando os produtores decidiram relançar Raanjhanaa (2013) com um final alternativo gerado por IA. Onde antes havia tragédia, com a morte do protagonista, surgiu de repente um desfecho esperançoso, com os olhos do herói a abrirem-se num último instante. A mudança provocou indignação: o realizador Aanand L. Rai considerou que se tinha “violado a integridade da narrativa”, enquanto a estrela Dhanush descreveu o novo final como um ataque à própria alma do filme.

Se este episódio parecia já suficiente para acender o debate, poucos dias depois surgiu outro anúncio ainda mais ousado: Chiranjeevi Hanuman – The Eternal, o primeiro épico indiano inteiramente gerado por IA, previsto para 2026. O projeto promete unir a mitologia hindu às mais recentes tecnologias, mas também levantou receios. “E assim começa”, comentou o cineasta Vikramaditya Motwane, temendo o desaparecimento de argumentistas e realizadores de carne e osso.

Entre o entusiasmo tecnológico e o medo da obliteração artística, Bollywood encontra-se dividida. Para alguns produtores, a IA é um disruptor capaz de reduzir custos e substituir equipas numerosas, democratizando o acesso à criação de imagens de grande escala. Mas para muitos realizadores, o risco está em matar a imprevisibilidade e a expressão humana que fazem a essência do cinema.

O veterano Shekhar Kapur, realizador de Elizabeth (1998), recusa o alarmismo. Para ele, “as melhores histórias são imprevisíveis, e a IA não consegue lidar com a imprevisibilidade”. Mais: acredita que a tecnologia pode abrir caminho a novos talentos que, sem meios para estudar cinema, finalmente poderão contar histórias através destas ferramentas. Já o realizador Shakun Batra, responsável por dramas como Kapoor & Sons, defende que o equilíbrio será sempre a chave: a IA deve complementar e não substituir a criatividade humana.

O público, porém, parece ter dado a primeira resposta. Face à polémica em torno de Raanjhanaa, os fãs mostraram fidelidade à versão original e rejeitaram a manipulação feita pela IA. Talvez esteja aí a prova de fogo: não bastará criar mundos perfeitos em computador se as emoções humanas, transmitidas no grande ecrã, não forem igualmente autênticas.

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No fundo, a questão permanece em aberto: será a IA a grande ameaça ao cinema indiano ou apenas mais uma ferramenta capaz de reinventar Bollywood? Uma coisa é certa: tal como acontece nas suas histórias mais vibrantes, também aqui o drama promete ser longo e cheio de reviravoltas

Carmen Maura regressa em grande: “Calle Málaga” celebra a velhice com humor e humanidade no Festival de Veneza

Carmen Maura, uma das grandes damas do cinema espanhol e rosto incontornável de Pedro Almodóvar, está de volta aos ecrãs com “Calle Málaga”, exibido no Festival de Veneza e já apontado como um dos títulos mais emotivos da edição. O filme marca o regresso da atriz a um papel central e faz-se através do olhar delicado da realizadora marroquina Maryam Touzani, que conquistou projeção internacional com O Azul do Cafetã (2022).

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Em “Calle Málaga”, Maura interpreta María Ángeles, uma espanhola que sempre viveu em Tânger e que, prestes a reencontrar-se com a filha Clara (Marta Etura), prepara croquetes e arruma a casa como quem arruma a própria memória. Mas a visita traz consigo uma revelação amarga: Clara quer vender o apartamento e levar a mãe para Madrid. Perante este choque, a protagonista resiste — com fragilidade, mas também com humor e dignidade.

A realizadora explicou que o filme nasceu da perda da sua própria mãe e da memória das mulheres da sua família. É um trabalho profundamente pessoal, entrelaçado com a língua castelhana que partilhava em casa, os cheiros da cozinha e as músicas de María Dolores Pradera. Essa herança cultural atravessa a narrativa e transforma-se em cinema: os grandes planos de Carmen Maura a cozinhar, a intensidade no seu olhar e o modo como encara a velhice sem máscara ou disfarce.

Para se ambientar, a atriz de 79 anos viveu algumas semanas em Tânger antes das filmagens, mergulhando num universo que, para Touzani, é também o reflexo da sua identidade. A cineasta sublinha que quis retratar a velhice de outra forma, sem a sombra do peso social ou a caricatura habitual: “Envelhecer é um privilégio e uma bênção. Queria celebrar os corpos envelhecidos que tantas vezes preferimos esconder.”

Com “Calle Málaga”, Carmen Maura prova mais uma vez que é capaz de unir força e fragilidade, humor e dor, num só gesto. E Maryam Touzani confirma-se como uma das vozes mais interessantes do cinema contemporâneo, capaz de transformar a memória íntima numa história universal sobre identidade, pertença e a coragem de resistir.

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Julia Roberts em “Depois da Caçada”: o filme de Luca Guadagnino que promete incendiar debates em Veneza

O realizador italiano Luca Guadagnino voltou a dar que falar na 82.ª Mostra de Veneza com o seu mais recente filme, Depois da Caçada (After the Hunt), apresentado fora de competição. Produzido pela Amazon e protagonizado por Julia Roberts, o drama mergulha nas tensões morais e éticas de um prestigiado campus universitário norte-americano, expondo feridas ainda abertas no contexto do movimento Me Too.

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Roberts interpreta Alma, professora de Filosofia em Yale, que leva uma vida aparentemente estável ao lado do marido, Fred (Michael Stuhlbarg), um terapeuta respeitado. O casal, símbolo da elite intelectual, organiza regularmente jantares animados, onde se cruzam colegas, alunos e amigos. Mas a harmonia é abalada quando Maggie (Ayo Edebiri), uma aluna promissora, acusa de violação o professor Hank (Andrew Garfield) — amigo íntimo de Alma.

O que se segue é um jogo de tensões que abala relações pessoais, académicas e de poder. Como num efeito dominó, cada personagem reage de forma distinta ao escândalo: Alma divide-se entre a lealdade ao amigo e a empatia pela aluna, enquanto os estudantes expõem visões mais radicais sobre feminismo, justiça e consentimento.

Em conferência de imprensa em Veneza, Julia Roberts descreveu o filme como um espaço para levantar questões e não dar respostas:

“Há um conjunto de velhos argumentos renovados neste filme, de uma forma que gera debate. O que procurávamos era isto: que toda a gente saísse da sala com sentimentos, emoções e pontos de vista distintos.”

A argumentista Nora Garrett reforçou que o objetivo foi trabalhar as nuances: “Não queríamos simplificar. Queríamos que soasse verdadeiro e levasse as pessoas a questionarem-se sobre o que podem fazer.”

Já Guadagnino sublinhou que cada personagem traz a sua própria verdade para a mesa: “Uma verdade não é mais importante do que outra.”

Sem assumir um tom panfletário, Depois da Caçada prefere retratar os dilemas individuais e coletivos que surgem quando o silêncio deixa de ser uma opção. Como salientou Roberts, o filme não procura dar respostas definitivas, mas sim provocar conversas, emoções e até irritações — porque, tal como na vida, as respostas raramente são lineares.

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O filme, que conta também com Chloë Sevigny no elenco, estreia nos cinemas norte-americanos a 17 de outubro

Warwick Davis regressa como Professor Flitwick na série Harry Potter da HBO

O regresso a Hogwarts já começou a ganhar forma: a HBO confirmou que Warwick Davis será o primeiro ator da saga cinematográfica a repetir o seu papel na aguardada série televisiva Harry Potter. O intérprete voltará a dar vida ao carismático Professor Filius Flitwick, mestre dos feitiços e diretor da Casa Ravenclaw.

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Davis, recorde-se, interpretou também Griphook, o duende de Gringotts, nos filmes, mas nesta versão televisiva o personagem será encarnado por Leigh Gill.

Novas caras em Hogwarts

As celebrações do Back to Hogwarts Day trouxeram também a revelação de novos nomes para o elenco:

  • Elijah Oshin como Dean Thomas, aluno da Gryffindor;
  • Finn Stephens como Vincent Crabbe;
  • William Nash como Gregory Goyle.

O trio de protagonistas já tinha sido anunciado: Dominic McLaughlin (Harry Potter), Alastair Stout (Ron Weasley) e Arabella Stanton (Hermione Granger). Do lado de Slytherin, Lox Pratt será o novo Draco Malfoy.

Professores de regresso às aulas

A equipa docente de Hogwarts também foi reforçada:

  • Sirine Saba como a Professora Pomona Sprout;
  • Richard Durden como o fantasmagórico Professor Cuthbert Binns, ausente dos filmes mas presente nos livros;
  • Bríd Brennan como a sempre firme mas dedicada enfermeira Madam Poppy Pomfrey.

Entre os nomes já confirmados estão ainda John Lithgow como Albus Dumbledore, Janet McTeer como Minerva McGonagall, Paapa Essiedu como Severus Snape e Nick Frost como Rubeus Hagrid. Bertie Carvel será o Ministro da Magia Cornelius Fudge, e Johnny Flynn interpretará Lucius Malfoy.

No núcleo dos Dursleys, Harry será atormentado por Bel Powley (Petúnia) e Daniel Rigby (Vernon).

A estreia mais aguardada de 2027

Produzida pela HBO em parceria com a Warner Bros. Television e a Brontë Film and TV, a nova série Harry Potterpromete adaptar com maior fidelidade os livros de J. K. Rowling, que também assume o cargo de produtora executiva. Escrita por Francesca Gardiner e realizada por Mark Mylod (que também assina a produção executiva), a série tem estreia marcada para 2027.

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Com a promessa de explorar cada livro em detalhe e um elenco renovado — mas com um toque de continuidade através do regresso de Warwick Davis —, este novo capítulo televisivo do universo mágico será, sem dúvida, um dos acontecimentos mais aguardados da próxima década para fãs em todo o mundo.

Magellan, de Lav Diaz, é o escolhido das Filipinas para os Óscares

As Filipinas já têm candidato oficial à categoria de Melhor Filme Internacional nos Óscares de 2026: Magellan, a mais recente obra do cineasta Lav Diaz.

A escolha foi anunciada no arranque das celebrações do Philippine Film Industry Month, depois de o filme ter sido selecionado de entre sete concorrentes locais. O júri destacou critérios como excelência estética e técnica, representação dos valores e cultura filipinos, apelo internacional e, claro, capacidade de organizar uma campanha forte para a shortlist de dezembro e a nomeação em fevereiro.

Rodado entre as Filipinas, Portugal e EspanhaMagellan estreou mundialmente no Festival de Cannes e conta no elenco com o mexicano Gael García Bernal, além de Arjay Babon, Ronnie Lazaro, Bong Cabrera e Hazel Orencio.

A narrativa centra-se nos últimos meses de vida de Fernão de Magalhães, explorador português que perdeu a vida na Batalha de Mactan, em 1521. Contudo, ao contrário das abordagens tradicionais, Diaz não o retrata como herói: o realizador apresenta-o como um homem confrontado com a sua própria mortalidade, cruzando a sua história com a dos filipinos capturados por traficantes de escravos em Malaca, que acabariam ao seu serviço.

Film Academy of the Philippines sublinhou que o filme “fornece uma perspetiva intransigente sobre a História, desafiando narrativas familiares para revelar realidades desconfortáveis”.

Produzido por Paul Soriano e Mark Victor, com Bianca Trinidad como produtora executiva, Magellan já tem distribuição assegurada pela Luxbox Films para vendas internacionais e pela Janus Films para a América do Norte.

Depois da estreia em Cannes, o filme segue agora para o Festival de Toronto e o New York Film Festival, antes de chegar às salas filipinas a 10 de setembro.

Paolo Villaluna, diretor-geral da Academia, descreveu-o como “um filme poderoso e poético”, garantindo que o governo filipino apoiará ativamente a campanha rumo a Hollywood:

“O percurso de Magellan para os Óscares está apenas a começar, mas faremos tudo para garantir que a sua visão chega ao mundo.”

Resta agora saber se a epopeia de Lav Diaz conseguirá repetir a rota de Magalhães e conquistar o Atlântico até chegar à cobiçada estatueta dourada.

Robin Wright troca os EUA pelo Reino Unido: “América é um caos”

Robin Wright, estrela de House of Cards e de clássicos como The Princess Bride, juntou-se ao grupo de celebridades que decidiram deixar os Estados Unidos para abraçar uma vida mais tranquila no Reino Unido.

Em entrevista ao The Times, a atriz e realizadora, oito vezes nomeada aos Emmy, explicou que já não se revê no estilo de vida americano:

“A América é um caos”, afirmou sem apontar diretamente a política ou nomes específicos.

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Segundo Wright, a diferença mais marcante entre os dois países está no ritmo do quotidiano:

“Adoro estar neste país. Há uma liberdade de ser aqui. As pessoas são amáveis, estão a viver. Não estão no carro, presas no trânsito, em pânico ao telefone enquanto comem uma sanduíche. Isso é a maioria da América: pressa, competição e velocidade.”

Atualmente a viver no campo britânico, a atriz descreve a serenidade que encontrou, contrastando com a sua vida anterior em Los Angeles:

“Aqui acordo a ouvir os pássaros. Antes, em Malibu, acordava com o barulho das obras dos vizinhos, todos a construir casas cada vez maiores. Estou farta disso — agora adoro o silêncio.”

Outro motivo que a prende ao Reino Unido é a vida pessoal: Wright revelou estar numa relação com o arquiteto Henry Smith, a quem conheceu num pub de aldeia, e falou sobre o sentimento de finalmente ter encontrado “a sua pessoa”.

Mesmo com esta mudança de rumo, Robin Wright não abandonou a carreira. A atriz vai surgir em breve em The Girlfriend, thriller psicológico e erótico da Prime Video, onde também assume a realização de alguns episódios. A série, que conta ainda com Olivia Cooke, estreia a 10 de setembro, mas Wright já deixou claro que pretende tirar um período de descanso e instalar-se definitivamente junto ao mar inglês.

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“É libertador. Terminei a busca, terminei de procurar e de ficar sempre com 60% do que queria. Agora, encontrei paz.”

“Ainda Estou Aqui”: O Filme Brasileiro Premiado em Veneza e nos Óscares Estreia no TVCine Top


As estreias de setembro no TVCine Top começam com um dos filmes mais marcantes e premiados dos últimos anos: Ainda Estou Aqui. Realizado por Walter Salles (Central do BrasilDiários de Che Guevara), o drama biográfico chega ao canal na sexta-feira, 5 de setembro, às 21h30, também disponível no TVCine+.

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A história transporta-nos para 1971, no auge da ditadura militar brasileira. Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) vê a sua vida desmoronar-se após o desaparecimento do marido, um deputado progressista levado pelos militares. Mãe de cinco filhos, recusa-se a ceder ao silêncio imposto pelo regime e inicia uma batalha solitária para provar o assassinato de Rubens. Inspirado nas memórias do filho mais novo, Marcelo Rubens Paiva, o filme ergue-se como um poderoso retrato da resistência feminina face à repressão e à violência política.

A história transporta-nos para 1971, no auge da ditadura militar brasileira. Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) vê a sua vida desmoronar-se após o desaparecimento do marido, um deputado progressista levado pelos militares. Mãe de cinco filhos, recusa-se a ceder ao silêncio imposto pelo regime e inicia uma batalha solitária para provar o assassinato de Rubens. Inspirado nas memórias do filho mais novo, Marcelo Rubens Paiva, o filme ergue-se como um poderoso retrato da resistência feminina face à repressão e à violência política.

Ainda Estou Aqui conquistou o Óscar de Melhor Filme Internacional em 2025, tornando-se ainda o primeiro filme brasileiro nomeado para Melhor Filme. Antes disso, já tinha sido premiado em Veneza, onde arrecadou o troféu de Melhor Argumento. A interpretação de Fernanda Torres foi igualmente histórica: a atriz tornou-se a primeira brasileira a vencer um Globo de Ouro, 25 anos depois de a sua mãe, Fernanda Montenegro, ter sido nomeada para o mesmo prémio. Montenegro surge também no filme, numa participação especial como Eunice Paiva numa fase mais avançada da sua vida.

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Mais do que uma evocação da repressão, Ainda Estou Aqui é uma celebração da coragem e da persistência contra a injustiça. Um filme imprescindível, que não só eterniza uma história de resistência, mas também consagra o cinema brasileiro no panorama mundial.

📅 Ainda Estou Aqui estreia 5 de setembro, às 21h30, em exclusivo no TVCine Top e no TVCine+.

Snoop Dogg retrata-se após polémica com Lightyear: “Errei, ensinem-me a aprender”

Depois das críticas geradas pelos seus comentários sobre a representação LGBTQ+ em Lightyear, Snoop Dogg veio a público pedir desculpa e reafirmar o seu apoio à comunidade.

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O rapper tinha dito recentemente que a cena em que Alisha Hawthorne (voz de Uzo Aduba) surge com a sua esposa o deixou “desconcertado” e “com medo de levar os netos ao cinema”. A declaração causou forte reação, incluindo uma resposta direta de uma das argumentistas do filme.

Numa publicação em redes sociais, Snoop procurou esclarecer a sua posição:

“Todos os meus amigos gays sabem que sou aliado. Fui apanhado de surpresa e não soube responder às perguntas dos meus netos de seis anos. A culpa foi minha. Ensinem-me a aprender, não sou perfeito.”

Enquanto isso, Lauren Gunderson, uma das guionistas que trabalharam em versões iniciais do argumento, explicou a importância da decisão de incluir a personagem de Alisha com a sua esposa e filho:

“Foi tão natural escrever ‘ela’ em vez de ‘ele’. Pequeno detalhe, grande impacto. Estou orgulhosa de ter contribuído para que uma relação feliz entre duas mulheres aparecesse no grande ecrã, mesmo que por poucos segundos. O amor é amor.”

A escritora recordou ainda que a cena, embora breve, teve um efeito representativo significativo, sobretudo num filme pensado para um público jovem.

Lightyear, derivado do universo Toy Story e protagonizado na versão original por Chris Evans, estreou em 2022 e ficou marcado por esta cena de afeto entre Alisha e Kiko, o que levou à sua proibição em vários países do Médio Oriente.

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Apesar da polémica, a obra da Pixar continua a ser lembrada como um marco pela inclusão, e o mea culpa de Snoop Dogg surge como uma tentativa de transformar um momento de desconforto pessoal numa oportunidade de diálogo.

Kim Novak manifesta preocupação com biopic sobre relação com Sammy Davis Jr.

A lendária atriz Kim Novak, ícone da era dourada de Hollywood e conhecida sobretudo por Vertigo – A Mulher Que Viveu Duas Vezes de Alfred Hitchcock, partilhou receios em relação ao próximo biopic que dramatiza a sua relação com o cantor e ator Sammy Davis Jr.

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Em entrevista ao The Guardian, Novak explicou que o título do filme — Scandalous! — não lhe agrada. “Não acho que a relação tenha sido escandalosa”, afirmou. “Ele foi alguém de quem gostei muito. Tínhamos muito em comum, incluindo a necessidade de sermos aceites pelo que fazíamos e não pela aparência. Mas temo que tentem reduzir tudo a aspetos sensacionalistas.”

O relacionamento entre Novak e Davis Jr. começou em 1956, após ambos se terem cruzado no programa The Steve Allen Show. No entanto, a ligação foi mantida em segredo devido ao preconceito racial da época e às leis de segregação ainda vigentes em vários estados norte-americanos.

Quando Harry Cohn, cofundador da Columbia Pictures, descobriu o envolvimento, pressionou Novak a terminar a relação, receando repercussões comerciais e sociais. O casal acabou por se separar pouco tempo depois.

O filme será a estreia de Colman Domingo como realizador e tem Sydney Sweeney no papel de Kim Novak, enquanto David Jonsson interpreta Sammy Davis Jr. Segundo Domingo, a produção deverá arrancar em 2025, após a conclusão da terceira temporada da série Euphoria.

“Espero que consigamos fazer um filme belo e delicado, que fale da possibilidade do amor em circunstâncias difíceis, sob o olhar de muitos, mas ainda assim tentando preservar a intimidade e a vida pessoal”, declarou o cineasta.

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Atualmente, Kim Novak encontra-se em Veneza, onde está a ser homenageada com o Leão de Ouro de Carreira. O festival apresenta ainda a estreia mundial do documentário Kim Novak’s Vertigo, realizado por Alexandre Philippe em colaboração com a atriz.

Ballad of a Small Player: Colin Farrell deslumbra como vigarista em Macau no novo filme de Edward Berger

Foi no Festival de Telluride que Edward Berger (All Quiet on the Western FrontConclave) apresentou em estreia mundial o seu mais recente filme, Ballad of a Small Player, um turbilhão visual e emocional que tem em Colin Farrell a sua força motriz.

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O ator irlandês interpreta Lord Doyle — ou melhor, um impostor que se faz passar por um aristocrata britânico enquanto foge do passado e da justiça no Reino Unido. Viciado em Baccarat, Doyle perde-se nas luzes de Macau, versão asiática e ainda mais intensa de Las Vegas, acumulando dívidas e fantasmas até se ver numa espiral de desespero.

Farrell em estado de graça

Desde a primeira cena — Doyle a acordar e a murmurar um “Oh, f*ck!” carregado de exaustão — Farrell domina o ecrã com uma entrega física e emocional arrebatadora. A interpretação é comparável às de Paul Newman em The Hustler ou Nicolas Cage em Leaving Las Vegas: um homem à beira do abismo, condenado pelos próprios vícios, mas ainda assim capaz de despertar empatia.

O filme joga constantemente com a perceção: será tudo real ou apenas a alucinação febril de um jogador em colapso? Doyle terá mesmo sobrevivido a uma queda ou será apenas uma miragem? Berger não dá respostas fáceis, preferindo mergulhar o público num delírio que oscila entre a tragédia e a sátira.

O luxo do elenco

Se Farrell é o coração da obra, Tilda Swinton oferece-lhe a réplica perfeita como Cynthia Blithe, uma investigadora privada contratada para o caçar. As suas trocas verbais, ora tensas ora deliciosamente absurdas, dão ao filme momentos de humor inesperado.

Outro destaque é Fala Chen como Dao Ming, funcionária de casino que tenta, em vão, travar a autodestruição de Doyle, e ainda Deanie Ip, lendária atriz de Hong Kong, numa participação saborosa como uma milionária viciada em Baccarat.

Macau como personagem

Filmado integralmente em Macau — tornando-se a primeira grande produção estrangeira a conseguir autorização para tal — o filme transforma a cidade em algo quase mítico. Entre o neón dos casinos e as ruelas encharcadas pela monção, a atmosfera lembra um oásis ilusório, simultaneamente fascinante e opressivo. A fotografia de James Friend e o design de produção de Jonathan Houlding contribuem para esta sensação de febre permanente, amplificada pela música dramática de Volker Bertelmann.

Uma viagem hipnótica

Ballad of a Small Player, adaptado do romance de Lawrence Osborne por Rowan Joffe, não é apenas um “thriller” sobre um vigarista. É um mergulho na solidão, na compulsão e na impossibilidade de redenção. Um filme que oscila entre sonho e pesadelo, com Colin Farrell no auge das suas capacidades.

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Se há dúvida de que Berger voltaria a surpreender depois do triunfo de All Quiet on the Western Front, a resposta é clara: conseguiu transformar uma história de vício e queda em algo hipnótico, por vezes grotesco, mas impossível de desviar o olhar.

Jim Jarmusch em Veneza: “Quase todo o dinheiro corporativo é sujo”

O Festival de Veneza foi palco de cinema, mas também de política, quando Jim Jarmusch foi confrontado sobre a polémica relação entre a distribuidora Mubi — responsável por lançar o seu mais recente filme Father Mother Sister Brother — e a empresa de capital de risco Sequoia Capital, acusada de investir em startups ligadas ao setor de defesa israelita.

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O realizador norte-americano, conhecido pelo seu olhar independente e pelas colaborações com nomes como Tom Waits e Cate Blanchett, não se esquivou ao tema:

“Claro que fiquei desapontado e bastante desconcertado com esta relação”, confessou, sublinhando que tomou conhecimento do investimento depois de já ter fechado o acordo de distribuição. “Sou um cineasta independente e, ao longo da carreira, aceitei dinheiro de várias fontes para conseguir concretizar os meus filmes. Considero que praticamente todo o dinheiro corporativo é dinheiro sujo.”

A polémica e a carta aberta

Jarmusch foi um dos signatários de uma carta aberta que apelava à Mubi para devolver os 100 milhões de dólares recebidos da Sequoia Capital. Entre as razões invocadas, destacam-se os investimentos da empresa em companhias de drones e tecnologias militares usadas por Israel. Os cineastas alegam que este financiamento liga indiretamente a distribuidora à violência em Gaza, onde mais de 63 mil pessoas já perderam a vida desde 2023.

Apesar da posição firme, o realizador não aceita que o ónus recaia sobre os artistas:

“Não somos nós, os cineastas, que devem ser responsabilizados por estas estruturas financeiras. A responsabilidade é das empresas, como a Mubi, mas também de muitas outras.”

O filme em Veneza

Father Mother Sister Brother, candidato ao Leão de Ouro, é descrito como um tríptico intimista sobre a relação entre filhos adultos e os seus pais distantes. Filmado em três países diferentes, o projeto junta um elenco de luxo: Tom Waits, Cate Blanchett, Adam Driver, Charlotte Rampling, Vicky Krieps, Mayim Bialik e Indya Moore.

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Produzido em associação com a Saint Laurent, The Apartment e a CG Cinema, o filme foi bem recebido na estreia, confirmando Jarmusch como uma das vozes mais singulares do cinema contemporâneo — ainda que, fora do ecrã, se veja inevitavelmente arrastado para um debate maior: o cruzamento entre arte, dinheiro e política num mundo cada vez mais turbulento.

Jude Law veste a pele de Vladimir Putin em The Wizard of the Kremlin: polémica em Veneza

O Festival de Veneza voltou a ser palco de controvérsia com a estreia mundial de The Wizard of the Kremlin, novo filme de Olivier Assayas que mergulha nas origens políticas de Vladimir Putin. Jude Law, que interpreta o presidente russo, garantiu em conferência de imprensa que não sentiu “medo de repercussões” pela sua participação:

“Espero não ingenuamente, mas não, não tive medo. Confiei nas mãos de Olivier e no guião, sabíamos que esta era uma história a ser contada com inteligência e nuance. Não procurávamos polémica pela polémica”, afirmou o ator britânico.

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Putin, “o homem sem rosto”

Law confessou que a maior dificuldade foi interpretar uma figura que revela muito pouco da sua personalidade: “Há quem o chame de ‘o homem sem rosto’. É uma máscara. Como ator, senti a dificuldade de transmitir emoções quando a personagem, em público, quase não deixa escapar nada”.

No filme, é Paul Dano quem assume o papel central de Vadim Baranov, um produtor de televisão que se torna o conselheiro oficioso de Putin nos anos 1990, ajudando a construir a sua imagem pública. Alicia Vikander interpreta Ksenia, a mulher de Baranov, enquanto Will Keen dá vida ao oligarca Boris Berezovsky. O elenco conta ainda com Jeffrey Wright e Tom Sturridge.

Assayas sobre a política moderna

Para Olivier Assayas, a história ultrapassa a figura de Putin e reflete transformações mais amplas:

“Este é um filme sobre como a política moderna foi inventada. Putin foi um caso específico, mas aplica-se a outros líderes autoritários. O mais assustador é que ainda não encontrámos uma resposta eficaz para o que estamos a viver.”

Paul Dano reforçou que o objetivo não era simplificar a narrativa em “bons e maus”: “Se apenas rotulássemos Baranov como vilão, seria uma simplificação perigosa. O cinema deve explorar as zonas cinzentas.”

Já Jeffrey Wright aproveitou para refletir sobre os paralelos com a história norte-americana: “Os EUA também tiveram impulsos para o autoritarismo. A diferença é que sempre existiu a ideia de que podíamos aspirar a ser melhores. Se essa ideia se perde, tornamo-nos no que vemos neste filme.”

Do romance ao grande ecrã

The Wizard of the Kremlin é uma adaptação do romance homónimo de Giuliano da Empoli (2022), inspirado em Vladislav Surkov, conselheiro de longa data de Putin e considerado um dos grandes arquitetos da sua ascensão política. O guião foi coescrito por Assayas e Emmanuel Carrère.

Produzido pela Curiosa Films e Gaumont, com participação da France Télévisions e Disney+, o filme conta já com distribuição garantida em França e pretende marcar presença forte na temporada de prémios.

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Com um elenco de luxo e um tema inflamável, The Wizard of the Kremlin promete ser um dos títulos mais falados de Veneza — e não apenas pelo cinema, mas pelo choque entre arte e política que inevitavelmente levanta.

Jason Momoa e David Leitch unem forças em alto-mar com The Pirate

Jason Momoa prepara-se para içar velas e embarcar numa nova aventura de ação. O ator de Aquaman e Fast X vai juntar-se a David Leitch, realizador de Bullet Train e Profissão: Perigo, no projeto The Pirate, adquirido pela Amazon MGM.

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Descrito como uma história de ação em alto-mar, o filme decorre a bordo de um navio pirata, prometendo misturar o carisma físico de Momoa com o estilo cinematográfico enérgico de Leitch, conhecido pelos seus combates coreografados e sequências explosivas. O argumento é assinado por Will Dunn, que já colaborou na série Ms. Marvel e trabalha atualmente em The Peasant, thriller medieval de Dev Patel.

Momoa, o novo “senhor dos mares” de Hollywood

Com raízes no Havai, Momoa tornou-se um dos rostos incontornáveis do cinema de ação da última década. Depois de conquistar o público com Aquaman e de integrar franchises como Dune e Fast & Furious, o ator regressa agora a mares ainda mais revoltos. Além de protagonista, será também produtor, reforçando o seu papel cada vez mais ativo nos bastidores da indústria.

Em televisão, acaba de estrear Chief of War na Apple TV+, série que revisita a unificação das ilhas havaianas, um projeto particularmente pessoal para o ator. No grande ecrã, já tem no horizonte Fast 11 e Dune: Part Three, duas continuações que prometem manter o seu nome no topo da ação blockbuster.

Leitch, o mestre da adrenalina

Antes de se tornar realizador, David Leitch fez carreira como coordenador de duplos — e isso sente-se na sua filmografia. Atomic BlondeDeadpool 2 ou Hobbs & Shaw cimentaram o seu estilo de ação frenética e estilizada. Agora, em The Pirate, tudo indica que voltará a levar o género para mares nunca dantes navegados, com espaço para humor, coreografia e, claro, explosões.

Expectativa em alto-mar

Ainda sem data de estreia anunciada, The Pirate promete juntar dois nomes em plena forma de Hollywood e explorar um cenário raramente visto em blockbusters contemporâneos: a pirataria em grande escala. Resta saber se Momoa trará ao papel um pirata mais próximo do brutal guerreiro que conhecemos ou se seguirá por caminhos inesperados, com a irreverência que tantas vezes imprime às suas personagens.

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Hollywood tem dado sinais claros de que continua a apostar em grandes aventuras originais. E, com esta dupla ao leme, The Pirate tem tudo para ser um verdadeiro acontecimento.

Bradley Cooper surpreende com “Is This Thing On?”: divórcio, comédia e um elenco de luxo

Bradley Cooper já nos habituou a ver o seu nome em múltiplas frentes — ator, realizador, produtor e argumentista — mas o seu novo projeto, Is This Thing On?, mostra um lado diferente do cineasta norte-americano. O filme, que acaba de ganhar o seu primeiro teaser trailer, cruza divórcio e comédia com um toque autobiográfico inspirado na vida do comediante britânico John Bishop.

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Um elenco de peso para uma história íntima

Embora assuma um papel mais secundário em cena, Cooper dirige e assina o argumento ao lado de Will Arnett e Mark Chappell. Os grandes protagonistas são Will Arnett e Laura Dern, que lideram a narrativa como um casal a braços com o fim do casamento. Arnett interpreta Alex, um comediante em crise de meia-idade que procura reinventar-se no competitivo panorama humorístico de Nova Iorque, enquanto Dern dá vida a Tess, uma mulher que confronta os sacrifícios feitos em nome da família.

O elenco de apoio reforça a ambição do projeto: Andra Day, Sean Hayes, Amy Sedaris e Ciarán Hinds juntam-se à produção, prometendo acrescentar novas camadas de intensidade e humor.

Entre risos e lágrimas

Segundo a sinopse oficial, o filme acompanha Alex e Tess enquanto enfrentam não só o processo de divórcio, mas também o desafio da coparentalidade e a redefinição da identidade pessoal. O que poderia ser um retrato pesado transforma-se, nas mãos de Cooper, numa exploração delicada e espirituosa da forma como o amor pode assumir novas formas mesmo após uma separação.

A caminho dos Óscares?

Depois do sucesso crítico e da corrida às estatuetas douradas com Assim Nasce Uma Estrela (2018) e Maestro (2023), Is This Thing On? surge como mais uma das grandes apostas da Searchlight Pictures para a temporada de prémios. O filme terá a sua estreia de prestígio no Festival de Nova Iorque a 10 de outubro, chegando aos cinemas da América do Norte a 19 de dezembro — uma data estratégica, próxima das nomeações para os Óscares. Para já, ainda não foi anunciada a data de estreia em Portugal.

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Comédia e drama voltam a cruzar-se no olhar de Cooper, que, mesmo fora do centro das atenções, continua a afirmar-se como um dos nomes mais versáteis e consistentes da Hollywood contemporânea.

veja o trailer original aqui

Tom Waits Regressa ao Cinema em Nova Colaboração com Jim Jarmusch

O inconfundível Tom Waits está de volta ao grande ecrã, e como não podia deixar de ser, fá-lo ao lado de Jim Jarmusch, o cineasta que melhor soube transformar a sua voz rouca e presença magnética em cinema. O novo filme intitula-se Father Mother Sister Brother e chega aos cinemas dos EUA na véspera de Natal. O trailer já foi divulgado e promete mais uma viagem muito particular ao universo poético e melancólico de Jarmusch.

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Uma história em tríptico sobre família e distância

Descrito como “um tríptico” de histórias, Father Mother Sister Brother mergulha nas relações entre filhos adultos e os seus pais distantes, explorando também os dilemas internos dessas mesmas personagens. Como habitual no cinema de Jarmusch, não se trata de grandes enredos cheios de ação, mas de pequenos gestos e diálogos que expõem fragilidades humanas.

O elenco é de luxo: Cate Blanchett, Adam Driver, Vicky Krieps, Mayim Bialik, Charlotte Rampling, Indya Moore e Luka Sabbat, além, claro, da presença sempre icónica de Tom Waits.

A sexta colaboração entre Waits e Jarmusch

Esta é já a sexta colaboração entre músico e realizador. Waits estreou-se no cinema de Jarmusch com Vencidos pela Lei(1986), seguindo-se Mystery Train (1989), a participação em Café e Cigarros (2003), a banda sonora de Noite na Terra(1991) e, mais recentemente, o papel em Os Mortos Não Morrem (2019). Sempre que regressa ao cinema pela mão de Jarmusch, o músico traz consigo aquele tom de outsider romântico que se encaixa na perfeição com o estilo minimalista e contemplativo do realizador.

O regresso de uma figura lendária

Para os fãs, este regresso é duplamente especial. Não só marca mais uma oportunidade de ver Tom Waits no grande ecrã, como também reacende a expectativa em torno do seu regresso à música, já que não lança um álbum de originais desde Bad As Me (2011). Enquanto esse dia não chega, podemos esperar uma performance intensa, estranha e profundamente humana no universo singular de Jim Jarmusch.

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Com estreia marcada para a véspera de Natal nos EUA, Father Mother Sister Brother promete ser mais um capítulo da longa cumplicidade entre um realizador que filma como quem escreve poesia e um músico que canta como quem representa o lado mais cru da vida.