
A história da implosão do Titan continua a abalar — e pode não ter sido apenas um acidente
Quase dois anos depois do submersível Titan ter implodido numa missão à zona do Titanic, ceifando a vida de todos os cinco ocupantes, dois documentários lançados recentemente trazem novas revelações, suspeitas e, acima de tudo, dúvidas inquietantes.
Implosion, disponível na HBO Max e Discovery+, e Titan, agora em streaming na Netflix, traçam um retrato profundo e perturbador do que levou ao colapso da missão da OceanGate. E se antes havia a ideia de tragédia acidental, agora começa a formar-se um consenso desconfortável: isto pode ter sido evitado.
Stockton Rush: pioneiro ou imprudente?
Ambos os documentários apontam os holofotes para Stockton Rush, CEO da OceanGate, criador do Titan e piloto da fatídica viagem. Rush faleceu no desastre, ao lado de Paul-Henri Nargeolet, Hamish Harding, Shahzada Dawood e o filho deste, Suleman, de apenas 19 anos.
Em Titan, é possível perceber como, desde 2013, a OceanGate foi sendo afastada por engenheiros da Universidade de Washington e da Boeing, alarmados com o uso de materiais como fibra de carbono no casco do submersível — uma escolha controversa e sem precedentes no mergulho tripulado a grandes profundidades.
Alertas ignorados, dados escondidos
O que talvez mais assuste é o padrão recorrente: sinais de alerta ignorados, vozes silenciadas, riscos minimizados em nome da ambição.
- Um protótipo do casco implodiu num teste.
- Em 2018, o engenheiro David Lochridge alertou formalmente para falhas críticas no projeto. Foi processado pela OceanGate.
- Em 2022, dados sonoros da missão “Dive 80” apontaram para rupturas internas. Ninguém agiu.
Em vez de trazer o submersível de volta a Everett para inspeção, a empresa deixou-o estacionado num parque em Newfoundland durante o inverno.
O som da tragédia
Num momento devastador do documentário Implosion, a esposa de Rush, Wendy Rush, é mostrada a monitorizar a comunicação com o sub na viagem fatal. Um estrondo abafado é audível. “O que foi esse barulho?”, pergunta.
Segundo os investigadores, esse som foi a implosão do Titan.
E se não foi acidente?
Os responsáveis pela investigação da Guarda Costeira dos EUA são categóricos: os dados indicam que o desastre não foi apenas falha técnica.
“O que temos aqui não é um acidente. É potencialmente um crime,” afirma Jason Neubauer.
“Ele sabia os riscos que estava a correr com o casco de fibra de carbono. Mas não contou a ninguém. Porque precisava do dinheiro”, reforça Thomas Whalen, também investigador da Guarda Costeira.
O que ainda falta saber?
- O relatório final da Guarda Costeira ainda não foi divulgado.
- Não há, para já, acusações criminais formais.
- Existem processos cíveis em andamento, como o pedido de indemnização de 50 milhões apresentado pela família de Nargeolet.
- Não houve ainda uma declaração pública significativa por parte de Wendy Rush ou dos principais investidores da OceanGate.
Vale a pena ver ambos os documentários?
Sim — e por razões diferentes.
- Titan oferece um olhar mais interno sobre a cultura da empresa e os conflitos de bastidores.
- Implosion concentra-se mais na investigação e no impacto mediático e humano da tragédia.
Em conjunto, traçam um retrato complexo de ambição desmedida, silêncio institucional e consequências trágicas.
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