Do jogo de culto ao grande ecrã
O realizador Genki Kawamura (A Hundred Flowers) mergulha no universo dos videojogos para criar Exit 8, adaptação de um jogo japonês de culto que estreou a 3 de setembro. Longe de ser apenas mais uma experiência estilística, o filme reinventa a lógica minimalista do jogo e transforma-a numa metáfora poderosa sobre o conformismo e as ansiedades de uma sociedade que parece andar em círculos.
Uma rotina que se torna pesadelo
O protagonista — um homem comum, sem traços distintivos — é apresentado num longo plano-sequência em primeira pessoa, enquanto ouve o Bolero de Ravel numa carruagem de metro lotada. A monotonia cede lugar à inquietação quando, ao sair, percebe que está preso num corredor interminável.
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A lógica é simples, mas implacável: se encontrar uma anomalia — um néon que pisca, um som fora do lugar, uma diferença subtil numa parede — deve recuar; se nada detetar, deve avançar. Um erro, e tudo recomeça do nível zero. O objetivo: alcançar o enigmático “nível 8” para escapar do ciclo.
Entre Escher, Ravel e Kubrick
Kawamura transforma este mecanismo numa experiência cinematográfica hipnótica. O motivo do “8” é explorado como símbolo de infinito, enquanto o Bolero de Ravel, com a sua cadência repetitiva, reforça a sensação de claustrofobia. As ilusões de ótica de M. C. Escher surgem como referência visual, tal como o cinema de Stanley Kubrick, evocado numa cena que cita diretamente The Shining.
O resultado é um thriller psicológico que prende o espectador ao mesmo jogo do protagonista: observar compulsivamente a imagem, à procura do detalhe que denuncia a anomalia.
Capítulos que renovam o enigma
Para evitar que o conceito se esgote, o filme divide-se em três capítulos, mudando de perspetiva: do Homem Perdido ao Homem que Caminha, até chegar à visão da Criança. Kawamura mantém o mistério sobre a ligação entre estas figuras, relançando constantemente a narrativa sem entregar respostas fáceis.
A metáfora da paternidade e do conformismo
Para além da superfície lúdica, Exit 8 é atravessado por uma reflexão simbólica: o medo da paternidade e da responsabilidade, tema que se repete na trajetória das personagens. Ao mesmo tempo, o ciclo infinito no labirinto do metro ecoa como alegoria de uma sociedade incapaz de reconhecer as suas próprias falhas e disfunções.
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O resultado é um grande oito psicológico e existencial, onde suspense, estranheza e reflexão se entrelaçam. Uma obra que, tal como o seu herói, desafia o público a não se perder no labirinto.



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