
O Presidente dos Estados Unidos e o Primeiro-Ministro do Reino Unido caminham juntos por uma Europa em chamas, mas o maior fogo vem das piadas – nem sempre certeiras – de um argumento que desperdiça o seu elenco estelar.
No novo filme de Ilya Naishuller (Nobody), Heads of State, o grande trunfo é mesmo o elenco: John Cena como um presidente americano saído diretamente de um franchise de ação, e Idris Elba como um primeiro-ministro britânico digno de Cambridge, sério e sisudo. A química entre ambos faz centelha, mas a faísca raramente se transforma em incêndio.
A premissa até promete: Will Derringer (Cena), um ex-ator de filmes de ação transformado em Presidente dos EUA, com a campanha “Se o fizemos no box office, faremos na Sala Oval”, vê-se forçado a embarcar numa viagem diplomática com Sam Clarke (Elba), um primeiro-ministro em queda nas sondagens. O objetivo? Uma ação de charme conjunta. O resultado? Um voo em Air Force One transformado num atentado violento, com os dois a saltarem de paraquedas para trás da Cortina de Ferro.
O início tem sabor a sátira: um presidente showbiz com bom coração mas sem treino político, e um líder europeu desencantado com o estado da geopolítica. O sarcasmo está lá (“Não és um DJ em Las Vegas, és o Comandante Supremo”, diz Clarke com desdém), mas rapidamente dá lugar à fórmula.
Depois da queda do avião, os líderes tornam-se fugitivos e improváveis parceiros numa travessia por países do Leste europeu, enquanto o mundo acredita que morreram. O filme assume aqui a sua verdadeira identidade: uma buddy comedy de ação com tiroteios, perseguições e frases de efeito. O melhor momento? Uma fuga em marcha-atrás pelas ruas de Varsóvia a bordo da limousine presidencial “The Beast”.
No entanto, a estrutura previsível e o argumento pouco inspirado tiram força ao filme. O humor dilui-se nas sequências de ação, e a suposta sátira política é deixada para segundo plano – até surgir, num momento quase perdido, uma vilania “America First” que tenta colar o vilão ao trumpismo, mas sem grande subtileza ou impacto.
Priyanka Chopra Jonas é introduzida como agente dupla MI6-CIA, mas desaparece durante grande parte do filme. Quando regressa, revela-se mais eficiente do que os protagonistas, embora o clímax final pareça retirado de um genérico de videojogo – repleto de duplos à vista.
O resto do elenco, com Paddy Considine, Jack Quaid e Carla Gugino, é competente mas pouco explorado. O realizador Naishuller entrega cenas de ação bem coreografadas, mas a sensação é de déjà vu constante.
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Heads of State é um filme que tinha potencial para algo mais ousado – uma comédia política afiada, uma sátira explosiva sobre o estado das democracias modernas. Em vez disso, joga pelo seguro e entrega entretenimento passageiro, sustentado pelo carisma dos protagonistas. Não é um desastre diplomático… mas também não é memorável.
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