O Festival de Veneza foi palco de cinema, mas também de política, quando Jim Jarmusch foi confrontado sobre a polémica relação entre a distribuidora Mubi — responsável por lançar o seu mais recente filme Father Mother Sister Brother — e a empresa de capital de risco Sequoia Capital, acusada de investir em startups ligadas ao setor de defesa israelita.
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O realizador norte-americano, conhecido pelo seu olhar independente e pelas colaborações com nomes como Tom Waits e Cate Blanchett, não se esquivou ao tema:
“Claro que fiquei desapontado e bastante desconcertado com esta relação”, confessou, sublinhando que tomou conhecimento do investimento depois de já ter fechado o acordo de distribuição. “Sou um cineasta independente e, ao longo da carreira, aceitei dinheiro de várias fontes para conseguir concretizar os meus filmes. Considero que praticamente todo o dinheiro corporativo é dinheiro sujo.”
A polémica e a carta aberta
Jarmusch foi um dos signatários de uma carta aberta que apelava à Mubi para devolver os 100 milhões de dólares recebidos da Sequoia Capital. Entre as razões invocadas, destacam-se os investimentos da empresa em companhias de drones e tecnologias militares usadas por Israel. Os cineastas alegam que este financiamento liga indiretamente a distribuidora à violência em Gaza, onde mais de 63 mil pessoas já perderam a vida desde 2023.
Apesar da posição firme, o realizador não aceita que o ónus recaia sobre os artistas:
“Não somos nós, os cineastas, que devem ser responsabilizados por estas estruturas financeiras. A responsabilidade é das empresas, como a Mubi, mas também de muitas outras.”
O filme em Veneza
Father Mother Sister Brother, candidato ao Leão de Ouro, é descrito como um tríptico intimista sobre a relação entre filhos adultos e os seus pais distantes. Filmado em três países diferentes, o projeto junta um elenco de luxo: Tom Waits, Cate Blanchett, Adam Driver, Charlotte Rampling, Vicky Krieps, Mayim Bialik e Indya Moore.
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Produzido em associação com a Saint Laurent, The Apartment e a CG Cinema, o filme foi bem recebido na estreia, confirmando Jarmusch como uma das vozes mais singulares do cinema contemporâneo — ainda que, fora do ecrã, se veja inevitavelmente arrastado para um debate maior: o cruzamento entre arte, dinheiro e política num mundo cada vez mais turbulento.



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