
Entre setembro e outubro deste ano, a Cinemateca Portuguesa presta homenagem a dois dos nomes mais singulares do cinema português contemporâneo: João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata. A iniciativa, que também terá extensão na Filmoteca Espanhola, em Madrid, é muito mais do que uma retrospectiva — é uma celebração da colaboração criativa e da cinefilia partilhada de dois autores que têm desafiado as convenções narrativas e estéticas do cinema nacional.
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Sob o sugestivo título “Malamor / Tainted Love”, o ciclo reunirá cerca de 60 filmes, incluindo obras da dupla, filmes escolhidos pelos próprios e uma estreia absoluta: 13 Alfinetes, curta-metragem inédita rodada entre Lisboa e Madrid, que será exibida no encerramento da programação — a 15 de outubro na Cinemateca e a 23 na Filmoteca.
Mais do que apenas exibir filmes, esta programação convida o público a mergulhar na rede de referências cinematográficas que informam a visão de Rodrigues e Guerra da Mata. Entre os autores escolhidos para a “carta branca” dada pela Cinemateca, figuram nomes como Derek Jarman, Jacques Demy, Jean-Luc Godard, John Waters, Johnnie To, Pedro Almodóvar, Radu Jude, Lucio Fulci, Tsai Ming-Liang e Rainer Werner Fassbinder. Uma selecção que espelha o ecletismo e a ousadia estética dos dois cineastas portugueses, cujas obras se movem entre o experimental, o melodrama, o fantástico e o documentário autoficcional.
A ligação entre o cinema e outras artes também será sublinhada com a instalação vídeo “Sem Antes Nem Depois”, proposta pela Sociedade Nacional de Belas Artes. A instalação coloca em diálogo Os Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha, e Onde Fica Esta Rua? (2022), de Rodrigues e Guerra da Mata, numa reflexão sobre memória, cidade e cinefilia.
Rodrigues e Guerra da Mata colaboram desde os anos 90, inicialmente com o primeiro a realizar e o segundo a assinar direção de arte e guarda-roupa. Mas a sua parceria evoluiu, resultando numa filmografia coesa e autoral que inclui títulos como O Fantasma (2000), Morrer Como um Homem (2009), A Última Vez que Vi Macau (2012), O Ornitólogo (2016) e o mais recente Fogo Fátuo (2022). Obras que desafiam classificações fáceis — mesmo quando abordam identidades de género, sexualidade ou história — e que reafirmam o seu lugar no mapa do cinema de autor europeu.
Importa ainda destacar o novo projeto já em preparação: “O Sorriso de Afonso”, cuja rodagem está prevista para o outono entre Portugal, Macau e Luxemburgo. O filme será uma coprodução internacional com a Jolie Rideau (Luxemburgo), do realizador e produtor Fabrizio Maltese, e a Frenesy Films, de Luca Guadagnino (Itália). Este será certamente um dos títulos mais aguardados da próxima temporada cinematográfica.
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Com esta homenagem alargada, a Cinemateca Portuguesa não só reconhece o impacto e a originalidade dos dois cineastas, como reforça a importância da preservação e celebração do cinema como arte viva, em constante diálogo com o passado e com o futuro.
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