Um rosto romântico que se tornou uma lenda
Robert Redford, ator, realizador e ativista que atravessou gerações como símbolo do charme masculino e da integridade artística, morreu. Tinha 89 anos. A notícia marca o desaparecimento de uma das figuras mais emblemáticas do cinema americano, cuja carreira se estendeu por mais de cinco décadas e que deixou uma marca indelével tanto em Hollywood como no cinema independente.
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Entre os anos 1960 e 1980, Redford foi um dos rostos mais reconhecidos do grande ecrã, admirado em igual medida por homens e mulheres. Mas nunca se contentou em ser apenas o “menino-bonito” de Hollywood: construiu uma filmografia que unia êxitos comerciais e obras de risco, sempre com um olhar atento às questões políticas e sociais do seu tempo.
Do basebol ao estrelato
Nascido a 18 de agosto de 1936 na Califórnia, Redford começou por sonhar com uma carreira no basebol, mas acabou por enveredar pelas artes. Depois de estudar pintura, escolheu o teatro e cedo brilhou na Broadway com Descalços no Parque, em 1963. A transição para o cinema foi quase imediata: em 1965 já dava que falar em O Estranho Mundo de Daisy Clover, e poucos anos depois tornava-se uma estrela mundial com Dois Homens e Um Destino (1969), ao lado de Paul Newman.
Seguiram-se clássicos incontornáveis como A Golpada (1973), que lhe valeu o Óscar de Melhor Filme, Os Três Dias do Condor (1975), Os Homens do Presidente (1976), sobre o escândalo Watergate, e África Minha (1985), ao lado de Meryl Streep.
Realizador premiado e fundador de Sundance
Redford também se destacou atrás das câmaras. A sua estreia como realizador em Gente Vulgar (1980) foi um triunfo imediato, conquistando o Óscar de Melhor Realização. Seguiram-se títulos como Quiz Show (1994) e Regra de Silêncio(2012), sempre pautados pela inquietação moral e pelo comentário político.
Mas talvez o seu maior legado esteja no apoio ao cinema independente. Em 1981 fundou o Sundance Institute, que viria a transformar o Festival de Sundance no maior certame do mundo dedicado ao cinema independente. Ao longo de quatro décadas, Sundance revelou cineastas como Quentin Tarantino, Steven Soderbergh, Kelly Reichardt ou Chloé Zhao, e tornou-se uma rampa de lançamento para vozes fora do sistema de estúdios.
Uma despedida discreta
Nos últimos anos, Redford afastou-se das câmaras, mantendo apenas uma breve participação simbólica em Avengers: Endgame (2019). Já em 2018 tinha anunciado a reforma após O Cavalheiro com Arma, filme em que contracenou com Sissy Spacek. Apesar do mediatismo da declaração, preferiu depois o silêncio, preservando a sua privacidade.
A sua última aparição pública aconteceu em outubro de 2021, na cerimónia de prémios da Fundação Alberto II do Mónaco. Ainda assim, continuava a acompanhar o destino do festival que criou, tendo reagido este ano à anunciada mudança de Sundance para Boulder, no Colorado, em 2027: “A mudança é inevitável”, disse, sublinhando que o festival deve continuar a assumir riscos e a apoiar histórias inovadoras.
O fim de uma era
Com a morte de Robert Redford, desaparece um dos últimos grandes ícones românticos de Hollywood clássica, mas também o arquiteto de um espaço fundamental para o cinema independente. Entre o glamour de A Golpada, a tensão política de Os Homens do Presidente e a revolução cultural de Sundance, o seu legado permanece intocado.
A próxima edição do Festival de Sundance, marcada para 22 de janeiro a 1 de fevereiro de 2026 — a última na sua cidade de origem, antes da mudança para Boulder —, terá inevitavelmente um peso simbólico acrescido: será não só uma celebração do cinema independente, mas também uma homenagem ao homem que o tornou possível.



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