O Festival Internacional de Cinema de Busan revelou em estreia mundial um dos títulos mais comentados da sua secção Vision-Asia: Mothernet, drama indonésio realizado por Ho Wi Ding e produzido por Shanty Harmayn, que mergulha no impacto emocional da tecnologia num contexto de perda familiar.
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A narrativa, escrita por Gina S. Noyer, desenrola-se num futuro próximo e acompanha um pai (Ringgo Agus Rahman) e um filho adolescente (Ali Fikry) que tentam reconstruir a vida após a morte repentina da mãe (Dian Sastrowardoyo). Num momento de desespero, um amigo sugere a recriação da figura materna através de um programa de Inteligência Artificial. Primeiro o filho, depois o pai, cedem à tentação, mergulhando numa dependência cada vez mais insustentável da aplicação.
Apesar de conter elementos de ficção científica, o realizador sublinha que o coração do filme está no drama humano. “O que me atraiu foi a relação entre pai e filho. Em muitas famílias asiáticas, a mãe é a ponte que facilita a comunicação. Quando desaparece, pai e filho ficam forçados a enfrentar-se diretamente, em plena dor”, explica Ho Wi Ding.
A decisão criativa foi clara: evitar excessos de “world-building” típicos do sci-fi e colocar a emoção em primeiro plano. O resultado é um filme onde os vislumbres do futuro se integram num quotidiano reconhecível, filmado sobretudo em localizações indonésias, mas com apoio de produção virtual em Singapura para criar ambientes mais futuristas.
A produção tem ainda o mérito de ser a primeira a beneficiar do Virtual Production Innovation Fund da Infocomm Media Development Authority (IMDA) de Singapura. O projeto envolveu também a Refinery Media como co-produtora, sinal da crescente aposta da região em novas tecnologias de rodagem.
Para Shanty Harmayn, o ritmo vertiginoso da inovação tecnológica foi um desafio: quando começaram a desenvolver Mothernet, antes da pandemia, a ideia de recriar entes queridos com IA parecia distante. “Estávamos a pensar em 2035, mas rapidamente percebemos que tinha de ser passado no futuro imediato. A vida real apanhou-nos de surpresa.”
A argumentista Gina S. Noyer acrescenta que o isolamento pandémico alterou a forma como entendemos a ligação humana: “As pessoas procuram na IA não só respostas, mas também companhia. Mas no fundo o que desejamos é presença. As máquinas calculam, mas só os humanos conseguem ouvir e dar sentido ao sofrimento.”
Com atuações de peso de alguns dos nomes mais reconhecidos do cinema indonésio — Dian Sastrowardoyo, Ringgo Agus Rahman e o jovem Ali Fikry —, Mothernet posiciona-se como um drama íntimo que utiliza a ficção científica como espelho do presente.
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É, no fundo, um filme sobre o que significa ser humano numa era em que a tecnologia promete substituir até os laços mais profundos. E, como lembra Noyer, “a humanidade floresce quando escolhemos estar presentes uns para os outros”.



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