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Paolo Sorrentino Abre Veneza com La Grazia: Toni Servillo é o Presidente que Todos Queríamos Ter

O Festival de Veneza abre este ano com o novo filme de Paolo Sorrentino, La Grazia (A Graça), que marca a 10.ª longa-metragem do realizador italiano e mais uma colaboração com o seu ator-fetiche, Toni Servillo. Depois de retratar figuras polémicas como Giulio Andreotti em Il Divo e Silvio Berlusconi em Loro, Sorrentino decide agora mostrar o oposto: um político íntegro, humano e compassivo — aquilo que, nas palavras do próprio, “um político deveria ser”.

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Um presidente com dilemas humanos

Em La Grazia, Toni Servillo interpreta Mariano De Santis, um fictício presidente da República italiana que enfrenta dilemas éticos de grande peso. Entre eles, a decisão de assinar — ou não — uma lei que legaliza a eutanásia num país profundamente católico. Mas o filme vai além da questão política: De Santis é também um viúvo que carrega as suas fragilidades, fuma um cigarro às escondidas do único pulmão e encontra afinidade inesperada na música do rapper italiano Guè.

Sorrentino inspirou-se numa notícia real sobre o atual presidente Sergio Mattarella, que perdoou um idoso que matara a esposa com Alzheimer. A partir daí, nasceu a pergunta central: o que significa, para um presidente, ter o poder de decidir sobre a vida e a morte?

Toni Servillo, o rosto da autoridade

Não é surpresa que Sorrentino tenha voltado a Servillo, ator com quem partilha sete filmes. “Quando penso em figuras de autoridade, penso imediatamente em Toni”, confessou o realizador. Ainda assim, o cineasta pediu-lhe contenção, evitando sentimentalismos excessivos, para que a humanidade emergisse apenas da presença natural do ator.

A relação entre o presidente e a sua filha (Anna Ferzetti) é outro pilar do filme. Inspirado na própria experiência de Sorrentino como pai, mostra um homem que aprende a ouvir uma nova geração em vez de se refugiar no saudosismo. É através dela que encontra a coragem para assinar a lei sobre a eutanásia — não por convicção pessoal, mas por confiança no futuro que pertence aos jovens.

Um filme moral, mas com ironia

Fiel ao estilo que lhe valeu o Óscar com A Grande Beleza, Sorrentino volta a cruzar drama e ironia. O realizador compara La Grazia a obras como O Decálogo de Krzysztof Kieslowski, em que cada dilema moral se torna motor da narrativa. Ao contrário dos retratos cáusticos de Andreotti e Berlusconi, aqui surge um político que exala integridade, mesmo com falhas pessoais — algo que o realizador considera urgente, num tempo em que demasiadas decisões políticas nascem da vaidade e da impulsividade.

Música, perdão e humanidade

A presença do rapper Guè no enredo acrescenta uma nota contemporânea ao filme. Uma das suas músicas, Le bimbe piangono, inclui a frase: “Chiedo dopo perdono, non prima per favore” (“Peço perdão depois, não antes, por favor”). Para Sorrentino, esta ideia ressoa como um mantra: o reconhecimento de que todos, mais cedo ou mais tarde, teremos de pedir perdão pelas nossas falhas.

Veneza como rampa de lançamento

Produzido pela The Apartment (do grupo Fremantle) e pela própria companhia de Sorrentino, Numero 10, em associação com a PiperFilm, La Grazia será distribuído pela MUBI nos EUA e em vários territórios internacionais. A estreia em Veneza confirma a aposta no filme como um dos grandes títulos da temporada, e, à semelhança de A Grande Beleza ou The Hand of God, promete colocar Sorrentino novamente no centro da corrida aos prémios.

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La Grazia é, no fundo, um retrato poético de como o poder político pode ser exercido com empatia e humanidade — um desejo tanto cinematográfico como político, que ecoa muito para lá do grande ecrã.

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