
Winona Ryder e Ethan Hawke encarnam os dilemas de crescer nos anos 90 — entre autenticidade, ambição e um coração partido ao som de Lisa Loeb
Em 1994, Reality Bites chegava às salas de cinema como uma espécie de diário íntimo da geração que cresceu a ouvir Nirvana, a gravar VHS com mensagens existenciais e a sentir-se perdida entre um idealismo teimoso e a tentação do sucesso fácil. Realizado por Ben Stiller, na sua estreia como cineasta, o filme é um retrato agridoce e inesperadamente atual sobre os (des)encantos da juventude pós-universitária.
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O retrato sem filtros de uma geração em suspenso
A ação decorre em plena era Clinton, e acompanha um grupo de recém-licenciados que tenta dar sentido à vida adulta. No centro está Lelaina (Winona Ryder), aspirante a documentarista, cheia de ideias mas sem mapa. Com a sua câmara sempre em punho, ela grava os dias e desilusões dos amigos, numa espécie de reality show muito antes dos reality shows.
Troy (Ethan Hawke), o eterno descomprometido existencialista, surge como o anti-herói romântico: culto, frustrado, charmoso e emocionalmente inacessível. O terceiro vértice do triângulo amoroso é Michael (o próprio Stiller), um produtor televisivo bem-intencionado mas já contaminado pelo sistema. A escolha entre eles — entre a segurança e a autenticidade — é também a grande escolha da vida adulta.
Amor, cinismo e a câmara a tremer
A química entre Ryder e Hawke é a alma do filme. A tensão emocional entre Lelaina e Troy não é daquelas de conto de fadas, mas daquelas que nos dizem: “estás a crescer e isso vai doer”. O argumento joga com dilemas reais — vender-se ou resistir? Romper com o sistema ou encontrar um lugar dentro dele?
Não há moral da história, mas há um retrato honesto da insegurança crónica de uma geração ensinada a sonhar alto e empurrada para a realidade de estágios mal pagos, empregos precários e relações desconcertantes.
Pop, vintage e um hino que ficou
Ao som de “Stay (I Missed You)”, de Lisa Loeb — canção que ficou gravada para sempre nos créditos finais da juventude dos anos 90 — Reality Bites constrói-se como uma cápsula do tempo. O guarda-roupa, as referências a The Real World, os cigarros omnipresentes, os cafés boémios, tudo respira uma década em que o “cool” era parecer que não se estava a tentar.
Mas apesar da roupagem nostálgica, os temas continuam a bater certo: medo do fracasso, desejo de autenticidade, a procura de um espaço onde ser adulto não signifique trair o que se é.
De fracasso crítico a clássico de culto
À época, a crítica dividiu-se — muitos não sabiam bem o que fazer com um filme que recusava as fórmulas românticas e não oferecia finais felizes. Mas com o tempo, Reality Bites tornou-se um clássico de culto. Hoje, é celebrado não só pela sua estética, mas pela sua coragem em não romantizar o caos que é tornar-se adulto.
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Deixamos aqui o single de Lisa Loeb que na altura inundou os nossos ouvidos :
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