O filme de Ryan Coogler tornou-se num dos maiores sucessos originais das últimas décadas — e o seu clímax levanta mais questões do que aquelas que resolve

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Numa era dominada por sequelas, remakes e universos partilhados, Sinners surgiu como um verdadeiro acto de fé: um filme original, ousado, violento e profundamente político. A aposta da Warner Bros. e do realizador Ryan Cooglerpagou-se com juros: $275 milhões em bilheteira nos EUA e presença no topo das maiores receitas de filmes originais dos últimos 15 anos — apenas atrás de Inception (2010).

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Mas Sinners não é apenas um sucesso comercial. É também uma obra densa, metafórica e inquietante, que continua a gerar debate e interpretações, especialmente após a estreia nas plataformas digitais e a chegada iminente às edições físicas (DVD, Blu-ray e 4K a 8 de julho).

Vampiros, racismo e escolha: o dilema dos gémeos Smoke e Stack

Situado no Mississippi dos anos 1930, Sinners acompanha dois irmãos gémeos afro-americanos — Smoke e Stack, ambos interpretados com intensidade por Michael B. Jordan — que regressam à terra natal depois de trabalharem para a máfia de Chicago. Lá, compram um antigo serração e transformam-no num juke joint para a comunidade negra local, onde o primo Sammie (Miles Caton) brilha com as suas performances musicais.

Mas o que parecia um drama sobre racismo sistémico e construção comunitária revela-se rapidamente um conto sobrenatural, quando uma criatura vampírica chamada Remmick (Jack O’Connell) começa a infiltrar-se no espaço — atraído pela música e pela energia vibrante do local.

À medida que os vampiros atacam e transformam, Stack sucumbe. Smoke resiste. E é aqui que a narrativa começa a revelar camadas mais profundas.

Um final agridoce — ou uma vitória silenciosa?

No clímax, Stack — já vampirizado — implora ao irmão que se junte a ele. Que abracem juntos a eternidade, livres da opressão dos homens brancos, livres do medo, livres de morrer. É um argumento tentador, especialmente quando sabemos que o Klan está a caminho, armado e pronto a queimar tudo.

Smoke recusa. Fica. E enfrenta os agressores. Mata vários membros do Klan, incluindo o desprezível Hogwood (David Maldonado), mas acaba mortalmente ferido. Antes de morrer, vê uma visão reconfortante da sua amada Annie (Wunmi Mosaku) e do filho que perderam.

A leitura mais evidente? Smoke morre por princípio. Não pelo juke joint. Não pela vitória. Mas porque recusar a submissão — seja à violência racista, seja à sedução simbólica do vampirismo — é a única forma de manter a sua identidade intacta.

Vampirismo como metáfora de assimilação

Ryan Coogler vai além do mero horror. O vampirismo em Sinners é uma poderosa metáfora sobre:

  • Colonização cultural — onde os vampiros representam uma espécie de coletividade que apaga individualidades;
  • Assimilação forçada — onde se perde a voz, a expressão única, o legado;
  • Resistência negra — onde morrer livre é preferível a viver escravizado ou homogeneizado.

O filme deixa claro que Remmick e os seus não são simples vilões. São uma alternativa ambígua a um mundo hostil. Mas, para Smoke, até a eternidade deixa de valer a pena se isso significar perder o que o torna ele próprio.

Stack, o pós-créditos e a última tentação

Na cena pós-créditos, Stack aparece com Mary (Hailee Steinfeld), longe do Mississippi, longe de Remmick, longe de Smoke. Diz que encontrou “liberdade” agora que o vampiro principal foi eliminado. Mas será liberdade real? Ou apenas outra forma de ilusão?

A decisão de Smoke em não o seguir ganha, assim, ainda mais peso: ele escolheu morrer livre em vez de viver sem alma, mesmo ao lado do irmão que mais amava.

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Sinners é mais do que um sucesso — é um aviso

Aclamado pela crítica, adorado pelo público e objeto de análise contínua, Sinners prova que há espaço no mercado para cinema original com ambição artística e coragem política. O seu sucesso deve servir de sinal claro a estúdios e produtores: o público quer ser surpreendido, desafiado e comovido — não apenas entretido

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