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Sirat: Óliver Laxe Convida-nos a Caminhar no Inferno (Para Encontrar Qualquer Coisa Parecida com Esperança)

O realizador galego estreia em Portugal o seu filme mais duro e introspectivo — e talvez o mais necessário

🔥 Óliver Laxe não faz cinema para nos entreter. Faz cinema para nos abanar. E com Sirat, a sua mais recente longa-metragem, o cineasta galego convida-nos para uma viagem seca, árida e sem atalhos, passada entre raves no deserto de Marrocos e silêncios carregados de dor. O filme, já premiado em Cannes e agora estreado em Portugal, é um mergulho no abismo — mas um abismo onde se procura, ainda assim, sentido.

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Sirat é um filme duro. Mas a minha intenção foi cuidar do espectador”, explica Laxe. “Queria que olhasse para dentro.”


Entre Gilgamesh e o Rei Artur… numa rave no deserto

A premissa de Sirat pode parecer simples: um pai e um filho procuram Mar, a filha e irmã desaparecida numa zona remota de Marrocos, palco de raves clandestinas e decadência espiritual. Mas o que Laxe filma é uma verdadeira descida aos infernos, onde o que está em jogo não é apenas o reencontro, mas o confronto com o vazio — e com a morte.

Inspirado por epopeias como o Épico de Gilgamesh ou as lendas do Santo Graal, Laxe assume o cinema como via para a transcendência. E fá-lo recorrendo a uma linguagem crua, visualmente poderosa, onde a imagem é sempre mais forte do que qualquer explicação.

“Um filme não é para ser entendido, é para ser sentido”, afirma.


Um cinema que remexe, que inquieta, que cuida — à sua maneira

Desde Todos vós sodes capitáns (2010) a O Que Arde (2019), passando por Mimosas (2016), Laxe construiu uma obra singular e espiritual, marcada por paisagens que são personagens e silêncios que são gritos. Em Sirat, essa procura radical atinge um novo patamar.

“Sou um viciado da imagem. Elas apanham-me. Estamos à sua mercê.”

E se o espectador se sente arrastado por esse deserto interior, é porque o próprio realizador também o percorreu com sacrifício.

“Custou-me escrever e montar as sequências mais duras. Não queria fazer ninguém sofrer. Mas quis mostrar que a dor, a perda, a morte fazem parte do caminho.”


O medo da morte e a rave como purgatório moderno

O título do filme, Sirat, remete para a tradição islâmica: a ponte que separa o inferno do paraíso, o caminho que todos devem atravessar após a morte. Essa ponte, no filme, é tanto literal como simbólica. E Laxe não foge à provocação:

“Vivemos numa sociedade tanatofóbica. Fugimos da dor, da morte, da angústia. Eu quero olhar para a morte. Quero saber se morro com dignidade.”

No meio de batidas electrónicas e corpos perdidos em êxtase, o cineasta vê algo mais do que fuga: vê um acto de entrega, uma espécie de liturgia contemporânea.

“Na cultura rave, nada há de mais transcendental do que morrer num acto de serviço no dancefloor.”


Paisagens com alma, cinema com cicatrizes

Como em toda a sua obra, também aqui a paisagem tem peso ontológico. É personagem, é espelho, é ameaça. E se Laxe afirma que adoraria filmar no Porto, é porque vê na arquitectura e nos lugares a alma das histórias.

“Encantava-me filmar no Porto. Pela arquitectura, pela sucessão de lugares… pela vida que existe ali.”

A vida, afinal, está sempre no centro do seu cinema — mesmo quando fala de morte. Porque, como sublinha:

“Estamos todos feridos. Só que nem todos o sabem. O cinema, para mim, é essa tomada de consciência.”


Caminhar, mesmo quando se sangra

Sirat não é um filme fácil. Não pretende ser. É uma meditação existencial, uma oração inquieta sobre perda, fé e aceitação. Mas é, acima de tudo, um gesto de esperança.

“A realidade é dura, mas temos fé de que o caminho nos leva a bom porto.”

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E esse caminho, como nos lembra Laxe, é feito de sombras, de desertos, de imagens que nos perseguem. Mas também de cinema — esse lugar onde, por vezes, encontramos respostas sem precisar de perguntas.

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