
“A vida de Chuck mostra que até o fim do mundo pode ter momentos de beleza”. Esta frase poderia muito bem resumir a nova adaptação de Stephen King, The Life of Chuck, que chega aos cinemas portugueses a 13 de Junho, depois de conquistar o público no Festival de Toronto com o seu tom surpreendentemente… esperançoso.
O mestre do horror com coração
Stephen King é conhecido pelas suas criaturas terríveis, cidades amaldiçoadas e crianças a enfrentar o mal puro. Mas quem lê com atenção sabe que, por detrás de cada monstro, há sempre uma centelha de humanidade. É por isso que obras como It ou The Stand funcionam tão bem: porque, no fundo, falam sobre amizade, empatia e resistência.
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Em The Life of Chuck, King vira o jogo. O mundo está a acabar – literalmente –, mas o foco não está nos desastres ou no caos. Está numa única vida: a de Chuck, interpretado por Tom Hiddleston. A narrativa começa com a internet a colapsar e a Califórnia a descolar como papel de parede velho. Mas logo percebemos que não se trata do apocalipse clássico: trata-se da despedida serena de um homem que viveu, dançou e foi amado.

Mike Flanagan e o cinema sem cinismo
Mike Flanagan, que já adaptou com sucesso Doctor Sleep e Gerald’s Game, volta a trabalhar com o universo King e mostra, mais uma vez, o seu talento em equilibrar o fantástico com o profundamente humano. Em entrevista, Flanagan disse que este filme “não tem uma grama de cinismo” — e é isso que torna The Life of Chuck tão especial. Num mundo cansado de sarcasmo e distanciamento, eis um filme que fala de amor, perda, alegria e memórias com a mesma seriedade com que King trataria um vampiro ou um palhaço demoníaco.
Flanagan tem razão ao dizer que muitos se esquecem que os melhores livros de King têm coração. “Stand By Me” ou “The Shawshank Redemption” são histórias sobre crescer, acreditar e recomeçar. “The Life of Chuck” segue essa tradição.
Um toque pessoal

Stephen King, agora com 77 anos e quase 80 livros no currículo, vive uma fase particularmente introspectiva. Depois de uma experiência de quase morte e com novas obras no forno (incluindo “Never Flinch” e uma terceira parte de Talisman), King decidiu celebrar a vida e as pequenas coisas. Em The Life of Chuck, tudo começou com uma imagem: um executivo que não resiste a dançar ao som de um baterista de rua em Boston. A partir daí, nasceu uma história sobre identidade, memória e legado.
Chuck aparece primeiro num cartaz enigmático. Depois, vai-se revelando como uma figura que marcou discretamente muitas vidas — talvez um reflexo de King, que, mesmo escrevendo sobre horrores, tocou corações em todo o mundo.
O elenco e o apelo da simplicidade
Além de Hiddleston, o filme conta com Chiwetel Ejiofor como um professor em crise existencial, Karen Gillan, Mark Hamill, Mia Sara (que regressa aos ecrãs após mais de uma década) e o jovem Benjamin Pajak. Um elenco que, como a narrativa, aposta na subtileza e na emoção.
King confidenciou que esta é das poucas adaptações pelas quais se sentiu verdadeiramente protetor — ao ponto de comparecer à estreia no Festival de Toronto, algo que não fazia desde The Green Mile, há 26 anos.
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O mundo pode acabar, mas ainda há tempo para dançar
Entre o fim do mundo e uma dança espontânea ao som de Walt Whitman, The Life of Chuck é um filme sobre encontrar beleza onde menos se espera. Não é um conto de terror — é um lembrete de que viver, amar e até dançar, mesmo diante do abismo, continua a ser das maiores formas de resistência.
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