
Um aniversário cheio de magia… e incerteza
O Studio Ghibli celebra 40 anos de existência em 2025, e fá-lo com o brilho de dois Óscares no bolso, um parque temático, uma presença forte na Netflix e uma legião de fãs apaixonados em todos os cantos do mundo. Mas há também uma sombra a pairar sobre este aniversário: Hayao Miyazaki, o génio por trás da maior parte das suas obras-primas, tem agora 84 anos, e o futuro do estúdio que cofundou com Isao Takahata parece… bem, tão nebuloso como a floresta encantada de Totoro.
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Com o aclamado O Rapaz e a Garça a arrecadar o segundo Óscar do estúdio em 2024 — mais de duas décadas depois de A Viagem de Chihiro ter vencido o primeiro — há quem acredite que Miyazaki se esteja finalmente a despedir da animação. Mas, vindo dele, nunca se sabe. Afinal, este é o homem que já se reformou mais vezes do que o Totoro cabe numa árvore.
Um estúdio feito à mão — literalmente

Desde 1985, o Studio Ghibli tornou-se sinónimo de animação feita com alma, pincel e um toque de melancolia. A Viagem de Chihiro, O Meu Vizinho Totoro, A Princesa Mononoke e Nausicaä do Vale do Vento (considerado por muitos o primeiro Ghibli, embora tecnicamente anterior à fundação oficial do estúdio) não são apenas filmes: são experiências emocionais que misturam ternura com tristeza, esperança com medo, e fantasia com duras verdades sobre a condição humana.

Ao contrário de muitos animes produzidos em massa, Ghibli sempre preferiu o caminho mais exigente: animações feitas à mão, argumentos densos, personagens femininas fortes e universos onde o bem e o mal não andam de mãos dadas — dançam uma valsa de ambiguidades.
“Cheiro de morte” e outras maravilhas
Goro Miyazaki, filho de Hayao, revelou que os filmes do estúdio trazem muitas vezes um “cheiro de morte” subtil. Não no sentido mórbido, mas sim como metáfora da vida, da perda, do que não se diz mas paira. Até Totoro, o filme das criaturas fofinhas da floresta, explora o medo infantil de perder uma mãe doente.

Não é por acaso que A Princesa Mononoke — um filme sobre o conflito entre natureza e civilização — foi descrito como uma obra-prima ambientalista e espiritual. A ligação dos filmes à natureza e ao mundo espiritual é um dos pilares da estética e da filosofia Ghibli, algo que ressoa particularmente nos dias de hoje, com as alterações climáticas a transformar fábulas em realidades.
Susan Napier, especialista em cultura japonesa, sublinha que o que distingue Ghibli dos desenhos animados ocidentais é precisamente essa complexidade emocional e ambiguidade moral. Nada de vilões cartoonescos ou finais forçados — apenas personagens reais em mundos irreais, com dilemas muito humanos.
Influências francesas, princesas independentes e florestas venenosas
A magia do Ghibli não nasceu do nada. Takahata estudou literatura francesa, Miyazaki inspirou-se em Antoine de Saint-Exupéry e no animador Paul Grimault, e ambos liam compulsivamente. O resultado? Filmes como Nausicaä, protagonizado por uma princesa curiosa que prefere estudar insectos gigantes a esperar que um príncipe a salve.
É essa combinação rara entre referências literárias, espírito progressista e um olhar estético meticuloso que tornou Ghibli um fenómeno global — tão artístico quanto político, tão espiritual quanto social.
E agora, Totoro?
O futuro do estúdio, sem Miyazaki ao leme, levanta dúvidas. A professora Miyuki Yonemura alerta que dificilmente alguém conseguirá replicar aquele mesmo olhar, aquele mesmo cuidado, aquela mesma magia.
Mas os fãs, como Margot Divall, acreditam que o legado continuará — desde que o estúdio mantenha o seu coração intacto: “Desde que não perca a sua beleza, desde que continue com a quantidade de esforço, cuidado e amor.”
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Resta saber se o mundo Ghibli se vai manter como aquele comboio encantado de Chihiro, a deslizar serenamente por cima da água… ou se sairá dos carris quando o mestre se for.
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