O negócio que está a incendiar Hollywood e a dividir Washington
A Netflix voltou a abalar a indústria audiovisual com um anúncio que ninguém esperava ver tão cedo: a gigante do streaming pretende adquirir a Warner Bros Discovery, incluindo os estúdios de cinema e televisão e o serviço HBO Max, num negócio avaliado em 72 mil milhões de dólares. Se concretizada, esta operação será a maior fusão de sempre no sector do entretenimento — e os alarmes já soam em Hollywood, em Wall Street e, agora, também na Casa Branca.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou esta semana que estará “envolvido” na decisão regulatória sobre a aquisição, deixando no ar a possibilidade de travar o acordo. Falando aos jornalistas, Trump admitiu que “pode ser um problema”, reconhecendo preocupações sobre o domínio de mercado da Netflix. Crucialmente, o presidente não revelou a sua posição concreta — apenas reforçou que a decisão será “complexa” e que os economistas terão um papel determinante na análise.
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O que está em causa: um único gigante com demasiado poder?
A notícia caiu como uma bomba na sexta-feira: a Netflix, já líder mundial de streaming, pretende absorver um dos seus maiores concorrentes e, simultaneamente, passar a controlar algumas das marcas mais icónicas da história do audiovisual — da Warner Bros Pictures à HBO, passando por séries, filmes e canais de televisão de várias décadas.
O acordo só deverá ficar concluído no final do próximo ano, depois de a componente de legacy media (canais de notícias, desporto e animação) ser autonomizada. Mas a crítica chegou antes que a tinta secasse no contrato.
Hollywood está em alvoroço.
A Writers Guild of America foi das primeiras entidades a reagir e não poupou nas palavras:
“A maior empresa de streaming do mundo a engolir um dos seus maiores concorrentes é exactamente o que as leis antitrust foram feitas para impedir.”
O sindicato alerta para riscos sérios: perda de empregos, salários mais baixos, piores condições de trabalho, aumento de preços para os consumidores e menor diversidade de conteúdos.
Do lado político, a oposição é bipartidária. O senador republicano Roger Marshall classificou o negócio como “um problema antitrust de manual”, alertando para os riscos de concentração total — vertical e horizontal — numa única empresa.
Segundo Marshall:
“Preços, escolha e liberdade criativa estão em risco.”
Paramount Skydance e Comcast foram derrotadas — mas Trump entra no debate
A Reuters avançou que Paramount Skydance, liderada por David Ellison, e a Comcast, dona da Sky News, também apresentaram propostas. As ofertas não foram seleccionadas, alegadamente devido a preocupações de financiamento (no caso da Paramount) e falta de vantagens de curto prazo (no caso da Comcast).
É aqui que o cenário político ganha outra cor.
David Ellison é filho de Larry Ellison
, bilionário tecnológico e aliado próximo de Trump.
Mesmo assim, o presidente evitou qualquer favoritismo e insinuou que terá uma palavra a dizer na decisão regulatória.
“Estarei envolvido nessa decisão”, afirmou Trump.
“É uma fatia grande de mercado. Não há dúvida de que pode ser um problema.”
Para Hollywood, uma intervenção presidencial directa é tão invulgar quanto alarmante. Para as empresas, adiciona incerteza ao processo. Para o público, abre a porta a uma disputa que pode moldar o cinema e o streaming na próxima década.
O que significa esta fusão para o futuro do cinema?
Se a Netflix controlar a Warner Bros, a indústria poderá enfrentar mudanças profundas:
- Perigo de homogeneização criativa
- Menos competição entre plataformas
- Preços potencialmente mais altos
- Maior controlo do pipeline: do produtor ao consumidor
- Riscos para salas de cinema que dependem de conteúdos da Warner
- Enfraquecimento de vozes independentes no sector
Não é apenas uma questão financeira — é uma questão cultural. A Warner Bros não é apenas um estúdio; é uma instituição centenária com marcas como Harry Potter, DC Comics, Looney Tunes, The Matrix e milhares de clássicos do cinema.
A Netflix, por sua vez, tem um historial de priorizar o streaming sobre a exibição em sala, tendência que muitos temem ver reforçada.
E agora?
O negócio ainda terá de passar por escrutínio rigoroso das autoridades de concorrência dos EUA e da União Europeia. O facto de o presidente ter já sinalizado reservas — mesmo que vagas — coloca a fusão sob maior pressão política e mediática.
Se aprovada, será uma das maiores reconfigurações da história do entretenimento.
Se bloqueada, marcará um precedente claro sobre os limites do poder das gigantes tecnológicas.
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Para já, uma coisa é certa: Hollywood está a observar cada movimento, ansiosa para perceber se caminha para uma nova era de mega-conglomerados… ou se o sistema ainda consegue travar o avanço de um colosso antes que engula os restantes.


























