
Cinema português em força no FIDMarseille 2025
Portugal volta a marcar presença no panorama internacional do cinema com três estreias mundiais no Festival Internacional de Cinema de Marselha (FIDMarseille), que celebra a sua 36.ª edição de 8 a 13 de Julho de 2025. Os novos filmes de Rita Azevedo Gomes, Leonor Noivo e João Miller Guerra foram seleccionados para a programação oficial do festival francês, um dos mais relevantes do circuito europeu no campo do cinema documental e de autor.
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Entre ficção, documentário e experiências híbridas, os três projectos representam diferentes abordagens estéticas e temáticas, revelando a vitalidade criativa do cinema português contemporâneo — e também a sua capacidade de dialogar com temas universais.
“Fuck the Polis”: Rita Azevedo Gomes em competição internacional
Em estreia mundial e inserido na competição internacional, Fuck the Polis marca o regresso de Rita Azevedo Gomes com uma obra que volta a cruzar literatura, paisagem e existencialismo. O título invoca o livro de poesia de João Miguel Fernandes Jorge, mas também um gesto político de rebeldia e contemplação.
Segundo a sinopse oficial, o filme parte de uma personagem chamada Irma, que, vinte anos depois de uma viagem à Grécia feita sob a convicção de que estava condenada, regressa agora acompanhada por três jovens. Entre ilhas, mar e céu, o grupo mergulha em leituras, escutas e vivências guiadas pelo apelo à beleza e à clareza. O argumento é assinado pela realizadora e por Regina Guimarães, e a produção é da responsabilidade da própria Rita Azevedo Gomes.
“Bulakna”: Leonor Noivo estreia-se na longa-metragem
Também em competição e em estreia absoluta estará Bulakna, primeira longa-metragem de Leonor Noivo, produzida pela Terratreme Filmes com coprodução francesa. O documentário foca-se na diáspora de mulheres filipinas, um tema raramente explorado no cinema português, e promete lançar luz sobre histórias de migração, resistência e identidade feminina globalizada.
Leonor Noivo, com uma carreira marcada por curtas-metragens intensas e observacionais, dá agora um passo sólido para o grande ecrã, mantendo o seu olhar atento à intimidade dos corpos e à invisibilidade das histórias que habitam as margens do quotidiano.
“Complô”: o cinema político de João Miller Guerra
A terceira estreia portuguesa no festival é Complô, de João Miller Guerra, documentário que parte da figura de Ghoya (Bruno Furtado), rapper e activista luso-cabo-verdiano, cuja história de vida é atravessada por questões de identidade, exclusão e pertença.
Segundo a produtora Uma Pedra no Sapato, o filme mergulha na experiência de alguém que “viu negado à nascença o direito de ser e se sentir português”, propondo uma reflexão poderosa sobre racismo estrutural e cidadania num país que ainda se confronta com os seus fantasmas coloniais. Uma obra urgente e política, que prolonga a linha de intervenção social visível noutras obras do realizador.
Coproduções e panorama internacional
Além dos filmes portugueses, o FIDMarseille 2025 conta ainda com coproduções nacionais, como All Roads Lead to You, da artista ucraniana Jenya Milyukos, e Morte e Vida Madalena, do brasileiro Guto Parente — ambas com presença portuguesa nos créditos, revelando a crescente participação lusa em projectos transnacionais.
O festival abrirá com Kontinental, do romeno Radu Jude, outro autor de culto do cinema europeu contemporâneo.
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O FIDMarseille volta assim a afirmar-se como um espaço privilegiado para a descoberta de vozes singulares e para a afirmação de um cinema que resiste ao formato, à fórmula e ao facilitismo — e Portugal, felizmente, está no centro dessa conversa.
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