
Fisher Stevens, Leonardo DiCaprio e uma luta urgente pela floresta amazónica… que quase ficou por contar
Há histórias que simplesmente precisam de ser contadas, mesmo quando o mercado diz que “já vimos uma igual”. We Are Guardians é uma dessas histórias. Um documentário nascido na linha da frente da destruição da Amazónia brasileira, realizado por Edivan Guajajara, Chelsea Greene e Rob Grobman — e que contou com a produção de Fisher Stevens e o apoio mais recente de Leonardo DiCaprio.
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Estreado no Hot Docs 2023, e agora com exibição nos EUA graças à distribuidora Area23a, este é um documentário que levanta uma questão desconfortável: por que razão só há espaço para “um filme sobre a Amazónia de cada vez”?
🌳 A semente da resistência nasceu no coração da floresta
Tudo começou em 2019, quando os três realizadores decidiram pegar na câmara e seguir os “guardiões da floresta”, indígenas em luta pela preservação das suas terras. Fartos de ver as suas histórias distorcidas pelos media nacionais e internacionais, quiseram mostrar a realidade vista por quem vive o fogo e a destruição na pele.
“Queríamos ouvir quem está mais próximo da floresta. Saber o que se passa do ponto de vista deles,” afirmam Greene e Grobman.
Um ano depois, mostraram as primeiras imagens a Fisher Stevens, Maura Anderson e Zak Kilberg — produtores que, na altura, estavam a fundar a produtora Highly Flammable. Ficaram rendidos. O projeto tornou-se o primeiro da empresa.
🛑 Mas o mercado disse: “Já temos um filme desses”
Apesar da força visual e da urgência do tema, o caminho de We Are Guardians foi tudo menos fácil. Fisher Stevens tentou a Netflix, a National Geographic (com quem já trabalhara em Before the Flood) e a Discovery. O problema? Já havia um outro documentário sobre a Amazónia a circular: The Territory, de Alex Pritz, focado no povo Uru-eu-wau-wau.
“Infelizmente, existe esta ideia de que só pode haver um filme sobre o Brasil de cinco em cinco anos”, lamenta a produtora Maura Anderson.
“O nosso filme é mais abrangente. Fala da interligação global com a floresta.”
Com a The Territory a ser comprada pela National Geographic em Sundance, We Are Guardians viu portas a fecharem-se.
💪 Mas os guardiões (e os cineastas) não desistiram
Apesar da falta de apoio institucional, a equipa continuou a filmar, a angariar fundos e a lutar. E acabou por ser recompensada: o filme estreou no Hot Docs (Canadá), passou por vários festivais e construiu uma sólida campanha de impacto.
Agora, com a produtora Appian Way de Leonardo DiCaprio como produtora executiva, o documentário está finalmente a chegar a salas de cinema, com estreia em Los Angeles e chegada a Nova Iorque marcada para 11 de Julho.
🌎 Mais do que um documentário — um chamamento global
“O foco é localizar o interesse. Mostrar que em qualquer parte do mundo há ‘guardiões’ que precisam de ser ativados,” diz Zak Kilberg.
A mensagem de We Are Guardians é clara: a luta ambiental não é exclusiva da Amazónia. Cada cidade, cada país, cada comunidade enfrenta as suas próprias formas de destruição ambiental. E só com mobilização local e global é que será possível inverter o curso.
🎬 O preço de contar estas histórias
Fisher Stevens, vencedor de um Óscar por The Cove, admite que só conseguiu envolver-se neste projeto porque tinha estabilidade financeira vinda de trabalhos mais comerciais como Beckham ou Tiger King para a Netflix:
“Não vamos ser pagos para fazer estes documentários de impacto social. Mas temos de continuar a fazê-los.”
E é aqui que We Are Guardians se torna mais do que um filme. É um acto de resistência, activismo e coragem, feito contra a lógica das distribuidoras e o cansaço mediático. Porque a floresta continua a arder — e alguém tem de continuar a gritar.
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