Actor encarna figura inspirada em Onassis num retrato rico de ambição, poder e decadência — “O que faz este homem… é também o que o destrói”
🏛️ Quem poderia imaginar Willem Dafoe no papel de um magnata grego do transporte marítimo, num registo que mistura o charme à beira do grotesco com uma crítica feroz ao poder patriarcal? O próprio actor, à partida, não.
“Eu? Fazer de um armador grego? Não me parece”, disse em tom irónico à Variety, durante uma entrevista em Atenas.
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Mas é precisamente esse o papel que assume em The Birthday Party, filme que estreia a 7 de Agosto na icónica Piazza Grande do Festival de Locarno. Dafoe interpreta Marcos Timoleon, um bilionário autofeito que organiza uma festa de aniversário luxuosa para a filha — e, no processo, inicia uma espiral emocional e política que ameaça desfazer o seu império familiar.

Um dia, uma ilha, um império em ruínas
Inspirado no romance do escritor grego Panos Karnezis, The Birthday Party decorre ao longo de 24 horas numa ilha privada nos anos 70. Timoleon, figura carismática mas tirânica, rodeia-se de bajuladores e oportunistas numa festa que serve de pretexto para os confrontos internos — especialmente com a filha Sofia (Vic Carmen Sonne), a única herdeira do império.
“É um retrato rico, um estudo sobre o tipo de poder — e de patriarcado — que corrói tudo à sua volta”, diz Dafoe.
A história desenrola-se entre silêncios pesados, alianças tensas e decisões que terão consequências irreversíveis. O próprio bilionário prepara, em segredo, uma escolha determinante sobre o futuro da filha… sem o seu consentimento.

Uma tragédia familiar com tons de ópera
Realizado por Miguel Ángel Jiménez, cineasta espanhol com um pé em Atenas, o filme é uma co-produção internacional que junta a grega Heretic (de Triangle of Sadness), a espanhola Fasten Films, a neerlandesa Lemming Film e a britânica Raucous Pictures.
O elenco inclui ainda Emma Suárez como a mulher de Timoleon — uma figura que mistura força e fragilidade —, Joe Cole (Peaky Blinders) como um jornalista que se envolve com Sofia, e a brilhante Vic Carmen Sonne, revelação de The Girl With the Needle.
“É uma história sobre poder. Corrupção. Família. Amor, sim, mas também ego e vulnerabilidade”, diz Suárez.
“A Olivia ama incondicionalmente. Vê-o como ninguém mais o vê. E tenta salvá-lo — mesmo sabendo que talvez seja tarde demais.”

Uma fábula moderna sobre os monstros que criamos
Filmado na ilha grega de Corfu, com o mar azul a contrastar com o ouro da ostentação, o filme capta um universo onde riqueza, isolamento e vaidade criam monstros — muitas vezes de forma inconsciente.
“As pessoas constroem coisas que, se não tiverem cuidado, se tornam num pesadelo”, reflecte Dafoe.
“Esquecem-se da intenção original. E aí… tudo desaba.”
O realizador insiste que não quis cair na caricatura:
“Sou contra tudo o que esta casta representa. Mas quis filmá-los com humanidade. Sem julgamentos fáceis.”
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Uma performance à altura de Brando e Lancaster
The Birthday Party evoca, segundo Dafoe, performances como as de Marlon Brando em The Godfather ou Burt Lancaster em The Leopard — figuras maiores que a vida, simultaneamente fascinantes e repulsivas, cuja queda é tão épica quanto a sua ascensão.
O produtor Giorgos Karnavas vai mais longe:
“Não consigo imaginar mais ninguém a interpretar Marcos Timoleon.”

Um Dafoe em modo imperial
Depois de uma carreira onde encarnou santos, criminosos, artistas e deuses em queda, Willem Dafoe continua a surpreender — e a arriscar. The Birthday Party promete ser mais um capítulo notável na sua filmografia: um estudo íntimo sobre o poder e o preço que se paga por o manter.



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