
Igualdade salarial? Só quando fores premiada — mesmo numa série “revolucionária”
Foi a série que mudou tudo. House of Cards não só lançou a Netflix para o mundo da produção de conteúdo original, como marcou o início de uma nova era para o streaming. Mas para Robin Wright, que protagonizou a série ao lado de Kevin Spacey, nem tudo foi revolução. Sobretudo no que toca ao salário.
Durante o Festival de Televisão de Monte Carlo, a atriz revelou que teve de travar uma verdadeira batalha por igualdade salarial com o colega de elenco — e a resposta que recebeu dos produtores é digna de um episódio sombrio da própria série.
“Quando disse: ‘Acho que é justo [ganhar o mesmo que o Kevin Spacey], porque a minha personagem se tornou tão popular como a dele’, eles responderam literalmente: ‘Bem, não podemos pagar-te o mesmo enquanto atriz’”, contou Wright, citada pela Variety e pela Deadline.
A desculpa? Não tens um Óscar na estante
Robin Wright interpretava Claire Underwood, uma das personagens mais fascinantes da série, cuja ascensão ao poder foi tão impactante como a do próprio Frank Underwood. Mas, aparentemente, o impacto no ecrã não era suficiente para equilibrar os salários fora dele.
“Porque não ganhaste um Óscar”, foi a resposta que lhe deram.
Para contornar a situação sem, claro, pagar-lhe o mesmo, a proposta foi criativa: três salários diferentes — atriz, produtora executiva e realizadora de alguns episódios.
“Vamos dividir para igualar”, disseram-lhe. Uma frase que soa a justiça, mas que, no fundo, é um truque para evitar confrontar o verdadeiro problema.
Robin Wright reconhece que ficar zangada “não mudaria nada”. O protocolo — esse ente invisível que tudo justifica — continua a imperar.
“Se perguntarem: ‘Por que é que esta ou aquela atriz não recebeu o mesmo que o Will Smith?’, eles dizem: ‘Vai subir depois de ganhares [o Óscar]’.”
Nomeações? Isso não paga contas
A atriz mostrou-se pragmática ao relatar o absurdo da situação: nem uma nomeação servia de argumento para subir o salário. O mundo de Hollywood (e agora o do streaming) continua preso a critérios antiquados, onde o prestígio de uma estatueta dourada vale mais do que o sucesso da personagem, a popularidade da série ou o impacto cultural.
“Nomeação, nem tanto. O que é que isto tem a ver com receber um aumento?”, questionou com ironia.
A revolução foi só para alguns
House of Cards foi, sem dúvida, um marco na história da televisão — e uma aposta visionária de David Fincher, que lhe apresentou o projeto com entusiasmo: “Este será o futuro, será revolucionário”, disse-lhe.
ver também : Kevin Costner Aos 70: “Reformar-me? Só Se a Imaginação Me Abandonar”
A revolução aconteceu, sim. Mas, como em tantas outras, nem todos ficaram do mesmo lado da barricada.
No comment yet, add your voice below!