O regresso do herói dos 70, ou do herói de 70 anos… é uma descida acidentada por estradas de montanha… e pela repetição cansada de fórmulas que já deram o que tinham a dar.

Confesso: ainda gosto de ver Liam Neeson a dar uns murros bem dados, com aquele ar de quem já devia estar em casa a beber chá e a ver documentários da BBC. Mas Ice Road: Vengeance leva essa fidelidade ao template do “homem em sofrimento com passaporte para a pancadaria” a um novo extremo — e não necessariamente pelos melhores motivos.

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A primeira coisa a assinalar: apesar do título, não há uma única estrada de gelo no filme. Nada. Zero. Neve há alguma, vá, mas gelo traiçoeiro por baixo de camiões a ranger? Esqueçam. O que temos aqui é Liam Neeson a tentar escalar o Evereste com um pote de cinzas do irmão falecido e a tropeçar numa conspiração internacional com tiroteios, políticos corruptos e um autocarro turístico transformado em Mad Max dos Himalaias.

Neeson, sempre em sofrimento, agora com cinzas num Tupperware

Mike McCann (Neeson), o camionista traumatizado do primeiro Ice Road, volta aqui consumido pela culpa e determinado a cumprir o último desejo do irmão: espalhar as suas cinzas no topo do mundo. Mas, claro, antes de chegar ao campo base, já está metido numa luta dentro de um autocarro colorido, ao lado de uma guia de montanha interpretada por Fan Bingbing, que surpreendentemente tem mais habilidades de artes marciais do que o currículo de alpinista deixaria prever.

Daí em diante, o filme transforma-se num desfile de clichés dignos de um direct-to-DVD da década passada. Há vilões genéricos com nomes exóticos, um professor americano com mais contactos do que o James Bond e até uma adolescente insuportável que passa de influencer mimada a justiceira de mochila às costas. Tudo isto embrulhado num guião que parece ter sido escrito por uma IA viciada em filmes de acção de domingo à tarde.

É tudo muito tonto, mas sem a graça que podia ter

O grande problema de Ice Road: Vengeance não é ser ridículo — isso até podia jogar a seu favor. O problema é ser aborrecidamente ridículo. As cenas de acção não têm energia, os murros parecem ensaiados em câmara lenta e os efeitos especiais têm o ar plastificado de quem gastou o orçamento todo a alugar um drone e esqueceram-se das balas digitais.

A fotografia é claustrofóbica, com aquele brilho de telenovela que nem a paisagem do Nepal consegue salvar. E, por mais que Neeson se esforce, já se nota o cansaço. Há flashbacks com de-aging do irmão Gurty tão embaraçosos que mais valia terem usado uma máscara de Halloween e dizer “aceitem, é ele em jovem”.

Talvez esteja na hora de pendurar o casaco de cabedal

No fundo, este Ice Road: Vengeance é mais um capítulo na longa saga do “Liam Neeson Cansado Mas Letal™”. Só que o cansaço já começa a sobrepor-se à letalidade. Com quase duas horas de duração e muito pouco a acontecer que não tenhamos visto antes (e melhor), este é o tipo de filme que se esquece mal acaba. A não ser, claro, que estejam a fazer maratonas de filmes de acção por inércia.

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Talvez o próximo projecto, a tal comédia Naked Gun em modo paródia, seja o descanso que o nosso herói merece — e o refrescar da carreira que todos nós precisamos. Porque por este caminho, nem o Evereste salva.

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