
Quando nem um filme bonito e elogiado escapa ao apocalipse dos IPs, está na hora de perguntar: a culpa é dos estúdios ou do público?
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A Pixar já nos habituou a maravilhas. De Toy Story a Soul, passando por obras-primas como Ratatui ou Inside Out, o estúdio foi durante décadas sinónimo de criatividade e risco. Mas agora? Bem… parece que até os mestres da animação estão a ser vítimas da era dos franchisings e dos reboots sem fim. O mais recente exemplo chama-se Elio — e o seu desastroso arranque nas bilheteiras pode ter consequências muito para além da Pixar.
O pior arranque da história da Pixar
Com uma pontuação bem respeitável de 84% no Rotten Tomatoes, Elio parecia ter tudo para triunfar: conceito original, visual deslumbrante e aquele toque emocional que a Pixar tão bem domina. Mas não chegou. O filme estreou com apenas 21 milhões de dólares nas bilheteiras norte-americanas — o PIOR arranque de sempre para uma longa-metragem da Pixar.
Doug Creutz, analista da TD Cowan, não tem dúvidas: este flop não é um caso isolado, é um sintoma. “Desde a pandemia, a diferença entre filmes de animação originais e sequelas ou adaptações tornou-se gigantesca”, alertou o especialista de Wall Street. E acrescenta com ironia: “Não culpem os executivos dos estúdios… culpem o público.”
Porque é que isto interessa (muito) à Disney?
A Disney não faz animação apenas para encher salas de cinema. Cada filme é uma peça de uma engrenagem maior — o chamado “flywheel” que liga animação, parques temáticos e produtos licenciados. E aqui está o problema: um filme como Elio não gera brinquedos, não inspira brinquedos de peluche, não tem potencial de montar uma montanha-russa no Magic Kingdom.
Se os filmes originais falham, o parque temático não ganha atrações novas e o merchandising não sai das prateleiras. O impacto é profundo — e a Disney sabe-o bem. Por isso, não é surpresa que tenha adiado Elio de 2024 para 2025, tentando evitar que um fracasso coincida com momentos sensíveis para a administração da empresa, nomeadamente o já famoso “proxy fight” envolvendo Bob Iger.
A guerra das sequelas vs. originais
Os números são assustadores. Desde 2022, as longas-metragens de animação originais da Disney (e da Universal/Illumination) arrecadaram, em média, 412 milhões de dólares. Pode parecer bom… até percebermos que as sequelas no mesmo período arrecadaram, em média, 844 milhões — mais do dobro.
E isto com um pequeno truque contabilístico: Super Mario Bros. entra nas contas como “original”, apesar de ser um produto da nostalgia e de uma marca com décadas de história. Ou seja: a animação original verdadeira, aquela que inventa novos mundos e personagens, está a perder terreno — e a perder feio.
Elio é um aviso. Vamos ouvir?
A grande questão é esta: se nem a Pixar consegue convencer o público a arriscar numa ideia nova, quem conseguirá? Será o futuro da animação um eterno ciclo de Toy Story 27 e Frozen: O Retorno da Tia da Elsa?
No meio deste cenário sombrio, vale lembrar uma frase de Walt Disney: “We keep moving forward, opening new doors, and doing new things…” Pois bem. A Pixar tentou abrir uma nova porta com Elio — e o público, desta vez, preferiu ficar na sala do costume. O problema? Se continuarmos a rejeitar o novo, em breve já nem haverá portas para abrir.
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Elio pode ter fracassado nas bilheteiras, mas talvez mereça uma segunda oportunidade — pelo bem da imaginação coletiva. Se não for por ti, que seja pelas gerações futuras que não merecem crescer apenas com sequelas.
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