
O ex-presidente norte-americano volta a provocar polémica com uma proposta que deixou os estúdios de Los Angeles em estado de alerta. Filmes estrangeiros com tarifa de importação? Sim, está mesmo a acontecer.
Poderíamos estar a falar de uma sátira ao estilo de Don’t Look Up, mas não — é a mais recente proposta de Donald Trump, que garante que, se regressar à Casa Branca, vai aplicar uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora dos Estados Unidos.
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A ideia, aparentemente inspirada num certo nacionalismo cinéfilo (e talvez num visionamento recente de Top Gun em repeat), deixou o mundo do entretenimento em estado de choque. A indústria de Hollywood, já abalada por greves, mudanças nos modelos de distribuição e as consequências do streaming, vê agora uma ameaça real à diversidade e sustentabilidade do mercado global.
“Se não é feito na América, então não merece estar em solo americano” 

Foi durante um comício em Michigan que Trump atirou a bomba: “Os nossos estúdios estão a ser ultrapassados por produções estrangeiras baratas. Vamos proteger o cinema americano. Tarifa de 100%. Filme francês, indiano, britânico — não interessa. Se não é nosso, paga para entrar.”
A promessa é clara: se for eleito novamente, vai aplicar esta tarifa com efeitos imediatos sobre filmes de produção internacional. O argumento? Proteger os trabalhadores de Hollywood. Mas os efeitos colaterais, dizem especialistas e executivos da indústria, seriam catastróficos.
Hollywood reage: “É um ataque à arte e à liberdade cultural”
As reações não se fizeram esperar. Estúdios, produtores independentes e distribuidores norte-americanos que trabalham regularmente com produções estrangeiras lançaram comunicados inflamados.
A Motion Picture Association of America (MPAA) classificou a proposta como “um retrocesso perigoso e economicamente desastroso”. Já vários realizadores, incluindo nomes como Martin Scorsese e Ava DuVernay, usaram as redes sociais para criticar a medida como “anti-cultural”, “retrógrada” e “incompatível com os valores democráticos”.
E não faltaram memes, claro — incluindo um em que Parasitas aparece com o selo “Proibido na América”.
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Impacto imediato? Filmes como Poor Things,The Zone of Interest e Anatomie d’une Chute seriam afectados 

Numa época em que produções internacionais têm vindo a conquistar cada vez mais atenção — e Óscares — esta política seria um murro no estômago para o cinema de autor e para os cinéfilos americanos.
Filmes premiados como The Zone of Interest, Anatomie d’une Chute ou Poor Things seriam afectados por tarifas de importação, encarecendo a sua exibição nos EUA e, provavelmente, levando muitos distribuidores a desistir da compra de direitos.
Isto sem falar de plataformas como a MUBI, Criterion ou mesmo a Netflix, que apostam regularmente em filmes estrangeiros para enriquecer os seus catálogos e responder à procura de um público mais exigente.
Um precedente perigoso com ecos dos anos 30
A proposta de Trump fez muitos recordar as políticas proteccionistas dos anos 30, quando alguns países (incluindo os EUA) impuseram taxas sobre produtos culturais estrangeiros — um movimento que levou a boicotes, cortes de financiamento e, em alguns casos, à quase extinção do cinema independente fora dos grandes estúdios.
Curiosamente, até Reagan — herói conservador americano e antigo actor de Hollywood — era contra tarifas deste género, defendendo a liberdade de circulação cultural como pilar da democracia.
E o resto do mundo? Rir… ou retaliar?
Na Europa, a reacção foi mista: entre o riso e a preocupação. Um produtor francês declarou: “Talvez devêssemos nós também taxar filmes americanos. Que tal uma tarifa de 200% para cada explosão em filmes do Michael Bay?”
Já na Índia, onde Bollywood tem uma presença enorme no mercado americano, a resposta foi mais séria: “Vamos rever os acordos de distribuição caso esta medida avance”, disse um representante da Eros International.
O cinema como campo de batalha político?
Com esta medida, Trump parece querer transformar o ecrã grande num campo de batalha ideológica. E como é habitual nas suas declarações, o impacto real (caso fosse implementada) está longe de ser claro. Mas numa altura em que o cinema se quer global, diverso e acessível, a proposta soa a mais um muro, não de betão, mas de celulóide.
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Se chegar à presidência, esta pode ser a nova guerra comercial. Não por aço ou petróleo, mas por histórias — e bilhetes de cinema.
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